1 – Glossário

1 – 1 – Hermenêutica - É a ciência e a arte que estuda a interpretação da Bíblia.
Ciência porque estabelece regras positivas e invariáveis
Arte porque as suas regras são práticas. 

[Do grego hermeneuticós] Ciência que tem por principal objectivo descobrir o verdadeiro significado de um texto. 
É a base para toda a crítica filológica. 
Quando empregada nas Sagradas Escrituras a sua missão passa a ser interpretar o que realmente Deus quer revelar através da Bíblia. 

1 – 2 – Exegese - É a aplicação das regras estabelecidas pela hermenêutica. 

[Do grego ek + egéomai] Literalmente, arranco do texto. É a prática da hermenêutica sagrada que busca a real interpretação dos textos que formam o Antigo e o Novo Testamento. Vale-se, pois, do conhecimento das línguas originais (hebraico, aramaico e grego), da confrontação dos diversos textos bíblicos e das técnicas aplicadas na linguística e na filosofia.

2 – EXEGESE 

2.1 - A exegese é distribuída em 5 bases: 
a) Exegese Estrutural - Doutrina que sustenta que o significado do texto bíblico está além do processo de composição e das intenções do autor.

b) Exegese Gramático-histórica - princípio de interpretação bíblica que leva em conta apenas a sintaxe e o contexto histórico no qual foi composta a Bíblia. 

c) Exegese Teológica - Princípio de interpretação bíblica que toma por parâmetro as doutrinas sistematizadas pelos estudiosos da Igreja. 

d) Texto e Contexto - O texto bíblico é a passagem focalizada como um todo significado dependente do contexto para interpretação. O contexto é o que vem antes e depois do texto 

e) Contexto Bíblico e Histórico - O contexto bíblico realiza-se na própria Bíblia. 
O Contexto histórico leva em consideração a época em o autor escreveu. Nalguns casos a própria Bíblia oferece o contexto histórico, mas noutros, é preciso recorrer a livros que abordem questões culturais e históricas. 

2.2 - A exegese é dividida em 2 tipos: 
a) Exegese Rabínica - Os judeus interpretavam a Escritura letra a letra, por causa da noção de inspiração que tinham. Se uma palavra não tinha sentido perceptível imediatamente, eles usavam artifícios intelectuais, para lhe dar um sentido, porque todas as palavras da Bíblia tinham que ter uma explicação. 

A Igreja primitiva herdou muito do rabinismo. 
Eles encontraram nela vários sentidos, a saber: literal, pleno e acomodatício
Literal: Sentido inerente às palavras, expressão pura e simples da ideia do autor.
Pleno: fundado no literal, mas que tem um aprofundamento não revelado pelo autor. Deus. A palavra do profeta refere uma situação histórica; a apalavra de Deus refere o futuro. 
Acomodatício: é a acomodação a um sentido à parte que combina com as palavras. É a Bíblia aplicada à realidade apenas pela coincidência dos textos. Por exemplo, em Mateus se lê “do Egito chamei meu filho”... para que se cumprisse a Escritura. Mas o sentido, ou seja, a aplicação original deste trecho não se referia ao Filho de Deus, mas à saída do Povo do Egipto. Outro exemplo de acomodação é a aplicação a Maria dos textos do livro da Sabedoria. Estes são mais literatura que Escritura. Todavia, crendo-se na inspiração, aceita-se que as palavras do autor podem Ter uma significação mais profundo que a original.

b) Exegese Católica 
Na exegese católica, partia-se dos escritos dos pais da Igreja para a Bíblia. Para a cristandade defensora dessa exegese, a Bíblia dizia aquilo que os pais da Igreja já haviam dito. Hugo de São Vítor chegou a dizer: “aprende primeiro o que deves crer e então vai à Bíblia para encontrares a confirmação”. Principalmente na idade média, a exegese esteve de mãos atadas pelas tradições e pela autoridade dos concílios. A regra era apegar-se ao máximo aos métodos tradicionais de interpretação valorizando mais a tradição e menos a Bíblia.

c) Exegese Protestante 
Surgiu do protesto de alguns cristãos contra a autoridade da Igreja como intérprete fiel da Bíblia. Lutero instituiu o princípio da “sola scriptura” (só a Escritura), sem tradição, sem autoridade, sem outra prova que não a própria Bíblia. A partir daquele instante, os Protestantes dedicaram-se ao estudo mais profundo da Bíblia, antecipando-se mesmo aos Católicos. Mas o princípio posto por Lutero possibilitou um desastre hermenêutico, pois ele mesmo disse que cada um interpretasse a Bíblia como entendesse, isto é, como o Espírito Santo o iluminasse.

Por causa deste entendimento de Lutero surgiram várias correntes de interpretação, que podem se resumir em Três: a conservadora, a racionalista e a Hegeliana.

  • A conservadora parte daquele princípio da inspiração como ditado, em que se consideram até os pontos massoréticos como inspirados. Não se deve aplicar qualquer método científico para entender o que está escrito. É só ler e, do modo que Deus quiser, se compreende.  

  • A racionalista foi influenciada pelo iluminismo e começou a negar os milagres. Daí passou-se à negação de certos factos, como os referentes a Abraão. Afirmam que as narrações descritas, como prova o vocabulário, os costumes, são coisas de uma época posterior, atribuído àquela por ignorância. Esta teoria teve muito sucesso e começaram a surgir várias ‘vidas’ de Jesus em que ele era apresentado como um pregador popular, frustrado, fracassado. 

  • Hegeliana. Nessa perspectiva, o apóstolo Paulo, entusiasmado, teria feito uma doutrina, que a atribuiu a Cristo (tese). Depois, João, com seu Evangelho constituiu a antítese. Finalmente São Marcos fez a síntese.  

3 – PRINCÍPIOS BÁSICOS DE EXEGESE 

Dez princípios básicos para a Interpretação Bíblica 

1. Denomina-se princípio da unidade escriturística. Sob a inspiração divina a Bíblia ensina apenas uma teologia. Não pode haver diferença doutrinária entre um livro e outro da Bíblia; 

2. Aprender a ler cuidadosamente o texto .Ter atenção com as virgulas, pontos finais e parágrafos, pontos de exclamação e interrogação, dois pontos e ponto e virgula. 

3. A Bíblia interpreta a própria Bíblia. Este princípio vem da Reforma Protestante. O sentido mais claro e mais fácil de uma passagem explica outra com o sentido mais difícil e mais obscuro. 

4. Jamais esquecer a Regra Áurea da Interpretação, chamada por Orígenes de Analogia da Fé. O texto deve ser interpretado através do conjunto das Escrituras e nunca através de textos isolados. 

5. Sempre ter em vista o contexto. Ler o que está antes e o que vem depois para concluir aquilo que o autor tinha em mente. 

6. Primeiro procura-se o sentido literal, a menos que as evidências demonstrem que este é figurativo. 

7. Ler o texto em todas nas traduções mais verosímeis. 

8. O trabalho de interpretação é científico e espiritual, por isso deve ser feito com isenção de ânimo e tentando-se desprender de qualquer preconceito. 

9. Fazer algumas perguntas relacionadas com a passagem para chegar a conclusões circunstanciais. Por exemplo: a) Quem escreveu? b) Quando e onde foi escrito? c) Qual o tema ou a razão principal do escritor? d) A quem se dirigiu o escritor?

10. Feita a exegese, se o resultado obtido contrariar os princípios fundamentais da Bíblia, ele deve ser colocado de lado.  

4 - A LINGUAGEM DA BÍBLIA 

4.1 – Inspiração Divina. Segundo o testemunho da própria Escritura Sagrada, ela foi divinamente inspirada, útil para o ensino, para a repreensão, para a correcção, para a educação na justiça, com o fim do homem de Deus ser perfeito, e perfeitamente habilitado para toda boa obra”. Numa palavra, a Escritura tem por objectivo fazer o homem “sábio para a salvação pela fé em Cristo Jesus” (II Tm.3.15,16). 

4.2 – Simplicidade. O entendimento da bíblia é simples para o sábio . (Aquele que tem a instrução Professor Deus). 

4.3 – Exortações, Obrigações, Promessas e Deveres. A cada passo as páginas da biblia revela grandes princípios cristãos expressos em linguagem simples e clara, evidente e palpável. 

4.4 – História, narrativas e profecias. A forma descritiva das passagens difere dos autores humanos, mas não altera o principio divino. 

4.5 – Grego e Hebraico. Os textos do Antigo testamento estão escritos em Hebraico, língua dos judeus enquanto que os escritos do Novo Testamento foram escritos em Grego.  

5. FIGURAS DE LINGUAGEM NO TEXTO BÍBLICO 

5.1 Metáfora: é a figura em que se afirma que alguma coisa é o que ela representa ou simboliza, ou com o que se compara. (Zc.3.8). 

5.2 Símile: também afirma que alguma coisa é o que ela representa ou simboliza, sendo que apresenta um elemento comparador. (Is.53.2). 

5.3 Metonímia: o emprego do nome de uma coisa pelo de outra com que tem certa relação (Gn.25.26; Lc.16.29; Gn.41.13; Jó.32.7) 

5.4 Sinédoque: a substituição de uma ideia por outra que lhe é associada (Mt.3.5; 6.11; Gn.3.19; 19.20). 

5.5 Hipérbole: É a afirmação em que as palavras vão além da realidade literal das coisas (Dt.1.28). 5.6 Ironia: É a expressão dum pensamento em palavras que, literalmente entendidas, exprimem sentido oposto (Gn.3.22;Jz.10.14; Jó.12.2; Mt.27.40). 

5.7 Prosopopeia: É a personificação de coisas ou de seres irracionais (Sl.35.10; Jó.12.7; Gn.4.4). 

5.8 Antropomorfismo: É a linguagem que atribui a Deus acções e faculdades humanas, e até órgãos e membros do corpo humano (Gn.8.12; Sl.74.11). 

5.9 Enigma: É a enunciação duma ideia em linguagem difícil de entender. (Jz.14.14) 

5.10 Alegoria: É a narrativa em que as pessoas representam ideias ou princípios (Gl.4.21-31). 

5.11 Parábolas: É uma forma de história colhida da natureza ou de ocorrências diárias normais, que lança luz sobre uma lição moral ou religiosa.

5.12 Profecia: A profecia da Escritura pode ser definida como a inspirada declaração da vontade e propósitos divinos. (Ver. Is.61.1,2; Lc.4.21). Não se deve esquecer que Jesus é o tema de toda a profecia (I Pe.1.10,11). 

5.13 Tipos: É uma classe de metáforas que não consiste meramente em palavras, mas em factos, pessoas ou objectos que designam factos semelhantes, pessoas, ou objectos no porvir (Hb.9.8,9; Jo.3.14; Mt.12.40). 

5.14 Símbolos: É uma espécie de tipo pelo qual se representa alguma coisa ou algum facto, por meio doutra coisa ou facto conhecido, para servir de semelhança ou representação. É diferente do tipo por não prefigurar a coisa que representa. Ele simplesmente representa o objecto (Ap.5.5; I Pe.5.8; Js.2.18). Os símbolos podem ser apresentados na forma de objectos (sangue, ouro, etc.); nomes (Abraão, Israel, Jacó, etc); números (seis, sete, oito, etc.) e cores (púrpura, escarlate, etc.). 

5.15 Poesia: é a mensagem de Deus revelada através do lirismo da poesia judaica. Está presente desde Génesis até o Apocalipse. A poesia hebraica não possui rima. Composta por paralelismo: sinônimico – o segundo verso repete com sinónimos (Sl.20.2,3; Pv.23.24,25); antitético – o segundo verso é uma antítese ao primeiro. (Sl.1.6; 71.7; Pv.12.1,2) e sintético – o segundo verso amplia a mensagem do primeiro (Sl.19.7; 119.97,103; Pv.23.23). 

6 – REGRAS PARA EXEGESE 

6.1 Interpretar lexicalmente: É conhecer a etimologia das palavras, o desenvolvimento histórico de seu significados e o seu uso no texto sob consideração. Esta informação pode ser conseguida com a ajuda de bons dicionários 

6.2 Interpretar sintacticamente: O intérprete deve conhecer os princípios gramaticais da língua na qual o documento está escrito, para primeiro, ser interpretado como foi escrito.

6.3 Interpretar contextualmente. Deve-se ter em mente a inclinação do pensamento de todo o texto. Então pode-se notar a “cor do pensamento”, que cerca a passagem que está sendo estudada. A divisão em versículos e capítulos facilita a procura e a leitura, mas não deve ser utilizada como guia para delimitação do pensamento do autor.

6.4 Interpretar historicamente: O intérprete conhecer as maneiras, costumes, e psicologia do povo no meio do qual o escrito foi produzido. 

7. PRINCÍPIOS DE INTERPRETAÇÃO BÍBLICA 

7.1 : Estuda a Bíblia partindo do pressuposto de que ela é a autoridade suprema em questões de religião, fé e doutrina. A autoridade tem a ver com a vontade, com a obediência e com o fazer (Mt.7.29). 

7.2: Não esqueças que a Bíblia é a melhor intérprete de si mesma, isto é: a Bíblia interpreta a Bíblia. Os maiores inimigos da Bíblia não são seus opositores, mas os seus expositores que tentam encontrar na Bíblia defesa para as suas ideias absurdas (Gn.3.1-5). Vidé as seitas ditas cristãs. 

7.3: Depende da fé salvadora e do Espírito Santo a compreensão e interpretação da Escritura. (II Co.4.4) 

7.4: Interpreta a experiência pessoal à luz das Escrituras e não as Escrituras à luz da experiência pessoal.

7.5: Os exemplos bíblicos só têm autoridade prática quando amparados por uma ordem que os faça mandamento universal. O exemplo de cada pessoa que protagoniza os acontecimentos podem não ser realizáveis por qualquer. (Gn.9.20,21; Lc.13.32). 

7.6: O principal propósito da Escritura é mudar nossas vidas e não multiplicar nossos conhecimentos. 

7.7: Apesar da importância da história da Igreja, ela não chega a ser decisiva na fiel interpretação da Escritura. Devemos afirmar que a Igreja não determina o que a Bíblia ensina; antes a Bíblia é que determina o que a Igreja deve ensinar. 

8 – MÉTODOS DE ESTUDO DA BÍBLIA 

Método é a maneira ordenada de fazer alguma coisa. É um procedimento seguido passo a passo, cujo objectivo é levar o estudante a uma conclusão. 

8.1 Método Analítico – Analisar algo é estudar em seus pormenores, detalhe por detalhe, tendo o cuidado de anotar os aspectos por menores que eles sejam e por mais insignificantes que eles pareçam ser. É o método microscópico. 

8.2 Método Sintético – Aborda cada livro como uma unidade inteira e procura entender o seu sentido como um todo. Procura analisar o livro de forma global. É o método telescópico. 

8.3 Método Temático – É o método de estudo de um tema específico. 

8.4 Método Biográfico – Aborda narrativas e exposições biográficas de personagens bíblicos. 

8.5 Método Histórico – É o método de estudo com sentido histórico de livros ou passagens bíblicas. Consideram-se os factos contemporâneos, lugares, tendências, movimentos e outras questões. 

8.6 Método Teológico – É o método de estudo onde se sistematiza as doutrinas bíblicas.

8.7 Método Devocional – É o método de estudo da Bíblia com fins de aplicar várias passagens às necessidades particulares do crente.  

“nenhuma profecia da Escritura é de particular interpretação. Porque a profecia nunca foi produzida por vontade dos homens, mas os homens da parte de Deus falaram movidos pelo Espírito Santo” (II Pe.1.20,21). 

 


REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Andrade, C. C. de. Dicionário Teológico. Rio de Janeiro: CPAD, 1996.
Lund, E. Nelson P. C. Hermenêutica. 14ª ed. São Paulo: Vida, 1998.
Oliveira, R. Como estudar e interpretar a Bíblia. Rio de Janeiro: CPAD, 1986.
Veloso, A. Como estudar a Bíblia. São Paulo: Novas Edições Líderes Evangélicos, 1989.
Por: Maique Borges
Permissões: Você está autorizado e incentivado a reproduzir, distribuir ou divulgar este material em qualquer formato, desde que informe o autor, seu ministério, e o tradutor, não altere o conteúdo original e não o utilize para fins comerciais.
Maique Borges

Maique Borges

Maique de Souza Borges, é teólogo, estudante e amante da música sacra. Membro da Igreja Assembleia de Deus em Brasília, casado e pai de um filho. Tem interesse especial pela História da Igreja. É o criador do site Cooperadores do Evangelho. Profissionalmente atua no ramo farmacêutico e brinca de músico e programador nas horas vagas.