Expiação limitada em Martinho Lutero (1483 1546 d.C)
Há discordâncias quanto ao que Lutero cria sobre a expiação. Em certa ocasião, ele falou da expiação como limitada e particular. Ele escreve: “Cristo não morreu absolutamente por todas as pessoas.”¹ Em outro lugar, ele diz: “Este é o meu sangue derramado por vós e por muitos — não diz: por todos — para o perdão dos pescados (Mc 14.24; Mt 26.28).”² Aqui, parece que Lutero está argumentando em prol de uma expiação limitada, exclusivamente para os eleitos. Outras seleções dos escritos de Lutero, também parecem indicar a crença numa expiação particular. Ao explanar 1Timóteo 4.12, ele observou uma clara distinção na obra salvífica de Cristo. Ele escreve:
“O apóstolo diz: 'Ele é o salvador de todos os homens, especialmente dos que creem.' Esta passagem distingue claramente entre 'todos os homens' e 'os que creem'. Estes ele salva eternamente, porém não aqueles. Por conseguinte, quando fazemos uma distinção na salvação entre os fiéis e os infiéis, devemos extrair daquelas passagens esta conclusão: que aqui Paulo se reporta à salvação geral. Isto é, Deus salva a todos os fiéis, porém não salva os infiéis da mesma maneira.”³
O contexto desta afirmação mostra que Lutero estava pensando na diferença entre a graça comum e a graça salvífica. Ele reconhecia que os não eleitos desfrutam dos benefícios temporais e não salvíficos da morte de Cristo. Mas a morte de Cristo era redentiva somente para os que creem, a saber, os eleitos. Ele afirma na mesma linha:
“Em primeiro lugar, ele [Cristo] não fez um testamento para todos, porquanto 'ele deserda alguns', como expressa em João 17.9: 'É por eles que eu rogo, não rogo pelo mundo.' Igualmente, em João 17:20: 'Não rogo somente por estes, mas também por aqueles que vierem a crer em mim, por intermédio da tua palavra.' Do mesmo modo, ele não disse 'por todos', mas 'que será derramado por muitos' (Mc 14.24; Mt 26.28). E aqui (Hb 9.15) lemos: 'a fim de que, intervindo a morte para remissão das transgressões que havia sob a primeira aliança, recebam a promessa da eterna aliança aqueles que tem sido chamados.' Assim, toca no tema da predestinação, a qual é ou demasiadamente difícil ou demasiadamente abrupta para nosso frágil intelecto conseguir aprender. Portanto, falando com humildade, ele deixou o legado somente para os que temem seu nome e creem nele.”⁴
Aqui Lutero reconhecia que o sacrifício de Cristo não visava a todos, e sim aqueles que lhe são dados pelo pai. Com respeito à compreensão que Lutero tinha da intenção específica da expiação, Timothy George escreve: “Lutero restringia o escopo da expiação aos eleitos.”⁵ No entanto, deve-se reconhecer que, às vezes, Lutero parecia falar de uma expiação universal em grande parte de seus escritos, alguns dos eruditos luteranos concorda que ele ensinava uma expiação universal em parte de seus escritos. Uma solução para isso é apresentada por Raymond Blacketer em seu ensaio “Definite Atonement in Historical Perspective” [A Expiação Definida na Perspectiva Histórica], onde ele observa que “enquanto alguns luteranos em última análise endossa a expiação universal, Lutero mesmo reflete a tradição da expiação particular agostiniana.”⁶
(LAWSON, Steven J. Pilares da Graça - Longa Linha de Vultos Piedosos, volume II, página 525-527. Traduzido por Valter Graciano Martins. Publicado pela editora Fiel, SP - 2013)
[1] Luther's Works, Vol. 25, American Edition, page 376.
[2] [1] Luther's Works, Vol. 25, American Edition, page 376 (Ibid).
[3] Luther's Works, Vol. 28, American Edition, page 261.
[4] Luther's Works, Vol. 29, American Edition, page 214.
[5] George, Theology of the Reformers, page 77.
[6] Raymond A. Blacketer, “Definite Atonement in Historical Perspective”, em The Glory of the Atonement, eds. Charles E. Hill and Frank A. James, III (Downers Grove, III: InterVarsity, 2004), page 313.
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