POIMENIA
Atendei
por vós e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu
bispos, para pastoreardes a igreja de Deus, a qual ele comprou com o seu
próprio sangue (Atos 20.28).
Quem é o
pastor, quais são as suas atribuições e como a resposta a estas perguntas
auxilia no atendimento das necessidades reais de uma igreja local? Neste
estudo eu tento responder a estas questões a partir das Escrituras, da Teologia
e da história.
Dados teológicos
Charles
Spurgeon disse: “Os ministros são para as igrejas, e não as igrejas para os
ministros” (The all around ministry, apud STITZINGER, James F., O
ministério pastoral na história. In: MACARTHUR, JR, 2004, p. 75). A partir
desta afirmação, proponho que a formulação de uma teologia de ministério
consistente exige três coisas:
- A teologia de ministério
deve ser fiel à revelação bíblica acerca da vocação, pastoreio e serviço
cristão.
- A teologia de ministério
deve ainda trabalhar cuidadosamente as informações advindas das
sistematizações teológicas anteriores, especialmente da eclesiologia.
- A teologia de ministério
deve procurar na história as várias maneiras como o pastorado tomou forma
entre o povo de Deus.
Essa
tríplice observação nos ajuda a compreender melhor tanto a identidade quanto a
função ou atribuições do pastor.
O Pastor nas Escrituras
No
ambiente do Antigo Testamento, o termo pastor é usado para identificar líderes
religiosos e políticos, nem sempre íntegros (Sl 78.70-72; Is 44.28, 56.11;
Jr 2.8, 10.21, 23.1-2; Ez 34.1-5; Na 3.18). Isso, de certo modo, reflete o
contexto maior no qual estava inserida a cultura de Israel.
No
oriente antigo, já em data recuada “pastor” era um título de honra que se
aplicava a soberanos e divindades de igual modo. Este uso da palavra se acha em
forma estereotipada nas listas dos reis sumerianos, nos registros da corte da
Babilônia, e nos textos das pirâmides (os livros dos mortos). O costume era
seguido no decurso de toda a antigüidade. (BEYREUTHER, E. Pastor. In: COENEN
& BROWN, 2000, p. 1587).
Quanto
aos pastores que eram guardadores de ovelhas propriamente ditos, exerciam
função que exigia grande responsabilidade:
Esperava-se
da parte dos pastores (…) que demonstrassem cautela, paciência e honestidade.
No verão seco, em terra fraca, não era fácil achar novas pastagens na época
certa, enquanto os rebanhos passavam por regiões desabitadas, nem atingir o
equilíbrio correto entre o pastoreio, o abastecimento de água, o descanso e a
viagem. O pastor devia cuidar incansavelmente dos animais indefesos (cf. Ez
34.1 e segs.). A devoção ao dever era posta à prova ao montar-se guarda sobre o
rebanho, noite após noite, contra as feras e os salteadores. (BEYREUTHER, op.
cit., p. 1587, 1588).
No uso
bíblico do termo, destacam-se duas novidades, já no Antigo Testamento:
Primeiramente, diversas funções pastorais são realizadas pelo próprio Deus,
que é chamado de “pastor de Israel” (Sl 80.1). Sua vinda é apregoada com
regozijo, pois ele “como pastor, apascentará o seu rebanho; entre os seus
braços recolherá os cordeirinhos e os levará no seio; as que amamentam ele
guiará mansamente” (Is 40.10-11; compare com o Sl 23.1). Na profecia de
Ezequiel, Yahweh mesmo recolherá suas ovelhas, garantindo-lhes o seu
bem-estar:
Tirá-las-ei
dos povos, e as congregarei dos diversos países, e as introduzirei na sua
terra; apascentá-las-ei nos montes de Israel, junto às correntes e em todos os
lugares habitados da terra. Apascentá-las-ei de bons pastos, e nos altos montes
de Israel será a sua pastagem; deitar-se-ão ali em boa pastagem e terão pastos
bons nos montes de Israel. Eu mesmo apascentarei as minhas ovelhas e as farei
repousar, diz o SENHOR Deus. A perdida buscarei, a desgarrada tornarei a
trazer, a quebrada ligarei e a enferma fortalecerei; mas a gorda e a forte
destruirei; apascentá-las-ei com justiça (Ez 34.13-16).
Após
julgar “entre ovelhas gordas e ovelhas magras” (Ez 34.20), Deus suscitará “um
só pastor, e ele as apascentará”. Tal figura aponta para o Messias, descendente
de Davi (Ez 34.23).
A segunda
novidade é que, além de dignificar espiritualmente o pastoreio, Deus promete
conceder ao seu povo pastores segundo o seu coração, que lhes “apascentem com
conhecimento e com inteligência” (Jr 3.15). É sob esta referência que o profeta
Jeremias identifica, a si mesmo, como aquele que não se recusou “a ser pastor”,
apesar de todos sofrimentos decorrentes desta vocação (Jr 17.15-17).
No Novo
Testamento, o Senhor Jesus utiliza a mesma figura da profecia de Ezequiel 34.23
para referir-se ao ajuntamento final dos remidos, por ocasião da consumação, em
um contexto em que ele mesmo afirma ser o “bom pastor”, que “dá a vida pelas
ovelhas” (Jo 10.11, 16).
Os
desenvolvimentos posteriores, registrados em Atos, nas epístolas e no
Apocalipse, demonstram que a comunidade cristã foi desde cedo pastoreada,
primeiramente pelos apóstolos e, concomitantemente e em seguida, pelos
presbíteros ou bispos, que eram, primeiramente, vocacionados por Deus, e
depois, confirmados pela igreja (At 14.23, 20.17, 28; 1Tm 4.14; Tt 1.5-9). Os poimenes
kay didaskaloi, pastores e mestres, já são citados na lista de ofícios de
Ef 4.11, dados por Deus à igreja para seu governo e edificação.
Louis
Berkhof (2002, p. 539) explica o surgimento do ofício pastoral nos seguintes
termos:
É
evidente que, originalmente, os presbíteros não eram mestres. A princípio, não
havia necessidade de mestres, separadamente, uma vez que havia apóstolos,
profetas e evangelistas. Gradativamente, porém, a didaskalia (o ensino,
a docência) ligou-se mais e mais estreitamente ao ofício episcopal; mas, mesmo
então, os mestres não constituíram uma classe separada de oficiais. (…) Com o
transcorrer do tempo, duas circunstâncias levaram a uma distinção entre os
presbíteros ou superintendentes encarregados somente do governo da Igreja, e os
que também eram chamados para ensinar: (1) quando os apóstolos faleceram e as
heresias surgiam e aumentavam, a tarefa dos que eram chamados a ensinar
tornou-se mais exigente, requerendo preparação especial, 2Tm 2.2; Tt 1.9; e (2)
em vista do fato de que o trabalhador é digno do seu salário, os que estão
engajados no ministério da Palavra, tarefa amplamente abrangente que requer
todo o seu tempo, foram liberados doutros trabalhos para poderem devotar-se
mais exclusivamente ao trabalho de ensinar.
Outros
termos bíblicos são relevantes para a compreensão da função ou ofício pastoral
(CURRY, 2003):
- ebed, aquele que se submete a um
soberano (Sl 143.12);
- abad, o trabalho realizado como
culto a Deus (Gn 2.15);
- diakonia, ministério ou serviço (Ef
3.7);
- doulos, escravo (Mt 24.45; Rm
1.1);
- raah, aquele que alimenta (2Sm
5.2; Ez 34);
- kohen, sacerdote (Ed 10.18);
- melek, rei (1Rs 2.15);
- nabi, profeta (Dt 18.15);
- zaqen, ancião (Nm 11.16-25);
- oikonomia, administração ou mordomia
(1Pe 4.10);
- marturia, martírio ou testemunho (Jo
1.34);
- pater, pai (1Co 4.14-15);
- lamad, ensinar, aprender (Dt 4.10
e 5.1);
- noutheteo, nouthesia,
admoestar, orientar, aconselhar (1Ts 5.12) e
- palal, diálogo com o Senhor,
oração (Sl 102.17; Ez 9.8; Am 7.1-5).
Stitzinger
(ibid., p. 54-58) destaca, dentre outros termos:
- kerux, proclamação pública do
Evangelho (Rm 10.14; 1Tm 2.7; 2Tm 1.11);
- didaskalos, responsabilidade pelo
ensino, tanto instrutivo (1Tm 2.7) quanto corretivo (1Co 12.28-29);
- governante (1Ts 5.12), embaixador
(2Co 5.20) e
- exemplo (1Tm 4.12 e 1Pe 5.3).
As atribuições dos pastores
A partir
destas informações, é possível esboçar uma lista de atribuições do ministro
(STITZINGER, op. cit., p. 57):
- Pregar (2Tm 4.2);
- pastorear, alimentar (1Pe
5.2);
- aperfeiçoar, capacitar (Ef
4.12); edificar com autoridade (2Co 13.10);
- orar pelo rebanho (1Sm 7.5,
8, 12.7, 23; Jo 17.9; At 6.4; Rm 1.9-10; 1Co 1.4-5; Ef 1.15-23);
- velar pelas almas (At
20.28-31; Hb 13.17);
- lutar pelo evangelho (1Tm
1.18); exortar e convencer (Tt 1.9); repreender (Tt 1.13);
- alertar (At 20.31) e
advertir (2Ts 3.15).
Isso
exige, indubitavelmente, contato pessoal amoroso e visitação (Mc 2.15; Lc
10.38-39, 19.5-6; At 20.19-21). Além disso, ele deve supervisionar e
administrar, efetivando o significado dos termos episcopado, presbítero e bispo
(At 15.1-6; 1Tm 3.1-7, 14-15).
O Pastor nos Símbolos de Fé e na Teologia
Na Confissão
de Fé de Westminster (CFW) e no Catecismo Maior (CMW), há poucas
referências ao ministério pastoral. Destacam-se a singularidade da vocação, as
funções ministeriais de distribuição dos sacramentos e pregação (CFW, XXVII.IV,
XXVIII.II, XXIX.III; CMW, perguntas 158-159). Nesse sentido, tais símbolos não
diferem de outro importante documento confessional, a Confissão Escocesa:
Duas
coisas são necessárias para a reta administração dos sacramentos. A primeira é
que eles devem ser ministrados por ministros legítimos; e declaramos que tais
são apenas os que são designados para a pregação da Palavra, em cujos lábios
pôs Deus a Palavra de exortação e que são para isso legitimamente escolhidos
por alguma igreja. A segunda é que devem ser ministrados com os elementos e da
maneira que Deus estabeleceu; de outra forma, afirmamos que deixam de ser os
sacramentos corretos de Jesus Cristo. (XXII.3.22).
A Segunda
Confissão Helvética (2CH), por sua vez, aprofunda as considerações sobre o
ministério, não apenas referindo-se ao pastor como pregador e administrador dos
sacramentos, mas dedicando todo o seu décimo oitavo capítulo ao tema “Dos
ministros da Igreja, sua instituição e deveres do pastoreio”. Os ministros são
usados por Deus para a edificação da igreja, foram instituídos pelo próprio
Senhor e não devem, nem ser depreciados, nem idolatrados. É através deles que
Deus move os corações dos homens: “Então, creiamos que Deus nos ensina pela sua
palavra, externamente por meio dos seus ministros e internamente move os
corações dos seus eleitos à fé pelo seu Espírito Santo; e que, portanto,
devemos atribuir a Deus toda a glória de todo este benefício”.
No que diz
respeito à sua natureza, os ministros são hyperetas, remadores, cujos
olhos estão fixos no timoneiro, portanto, são “homens que não vivem para si
mesmos ou segundo sua própria vontade, mas para os outros” (2CH, XVIII). Eles
são “despenseiros dos mistérios de Deus”, quais sejam, o Evangelho e os
sacramentos e exercem o poder de Cristo, no uso correto das chaves do reino dos
céus (Ibid., loc. cit.). Seus deveres são “o ensino evangélico de Cristo e a
legítima administração dos sacramentos”, desdobrados em diversas tarefas, desde
a ação pública, na liderança dos cultos e pregação, até as ações particulares,
descritas pelos verbos ensinar, exortar, estimular, consolar, confirmar,
corrigir, reconduzir, levantar, convencer, expulsar, repreender, visitar e instruir,
além dos deveres gerais de conservar a igreja unida, catequizar, e cuidar dos
necessitados, cuidando “o mais diligentemente possível de tudo o que diz
respeito à tranqüilidade, à paz e à salvação das igrejas” (Ibid., loc. cit.).
Para isso, é mister que o ministro seja piedoso:
Requer-se
especialmente que tema a Deus, seja constante na oração, entregue-se à leitura
sagrada e, em todas as coisas e em todas as ocasiões, seja vigilante, e pela
pureza de vida deixe sua luz brilhar diante de todos os homens. (Ibid., loc.
cit.).
O Pastor na história
Policarpo
(c. 70-55 d.C), fala no pastor nos seguintes termos:
E os
presbíteros também devem ter compaixão, ser misericordiosos para com todos os
homens, trazendo de volta as ovelhas que estão se perdendo, visitando todos os
enfermos, não negligenciando uma viúva ou um órfão ou pobre: mas sempre
cuidando do que seja honrado aos olhos de Deus e dos homens… Que o sirvamos,
portanto, com temor e toda reverência, como ele mesmo ordenou, bem como os
apóstolos que pregaram o evangelho e os profetas que proclamaram de antemão a
vinda do Senhor. (POLICARPO, Epistle of Polycarp to the
Philippians, apud STITZINGER, op. cit., p. 59).
Clemente
de Alexandria (c. 155-220 d.C.), Orígenes (c. 185-254 d.C.) e Agostinho de
Hipona (354-430 d.C.) dedicaram-se pessoalmente ao pastoreio e deixaram
importantes contribuições escritas sobre o assunto, apesar de observar-se, em
seus estudos e procedimentos, influências da institucionalização da igreja,
iniciada no século II (Ibid., p. 58-62).
Na Idade
Média é possível listar John Wycliffe (1324-1384), John Huss (1373-1415) e
William Tyndale (1494-1536) como servos de Deus comprometidos com um ministério
bíblico, voltado para a simplicidade do Novo Testamento (Ibid., p. 62-65).
No
período da Reforma, apesar das diferenças doutrinárias, tanto os reformadores
magisteriais, Martinho Lutero (1483-1546), Martinho Bucer (1491-1551), João
Calvino (1509-1564) e John Knox (1514-1572), quanto os reformadores
anabatistas, tais como Conrad Grebel (1495-1526), Michael Sattler (1490-1527),
Balthasar Hubmaier (1480-1528) e Menno Simons (1496-1561), lutaram por implementar
ministérios pastorais profundamente enraizados nas Escrituras, comprometidos
com a santidade e voltados para a glória de Deus (Ibid., p. 65-72). Uma leitura
das biografias desses homens confirma que eles pagaram um alto preço por tais
convicções.
Um rico
legado histórico foi deixado pelos puritanos. Para Richard Baxter (1615-1691),
o cuidado das almas era fundamental, a fim de que Deus pudesse atender as
orações por avivamento (BAXTER, 1989, p. 29). Juntamente com dois assistentes,
ele pastoreou, durante 19 anos, a igreja de Kidderminister, Inglaterra,
visitando, ano após ano, cada uma de suas 800 famílias (STITZINGER, ibid, p.
72; BAXTER, op. cit., p. 28).
De modo
simples e direto, Baxter (Ibid., p. 107-112) lista oito deveres dos ministros:
- Pregação pública da Palavra;
- administração das
ordenanças;
- condução do povo nas orações
públicas e louvores;
- cuidado de cada membro do
rebanho;
- dedicação às famílias;
- atenção aos cristãos
modestos, retos e obedientes;
- reprovação e admoestação dos
transgressores e
- uso da disciplina
eclesiástica.
O perfil
do pregador, traçado por John Bunyan, em sua obra O peregrino (1999, p.
34-35), retrata de forma excelente a idéia puritana acerca do ministério:
Então
disse o Intérprete: Entre. Vou mostrar-lhe algo que lhe será proveitoso…
Levou-me a um aposento e mandou o servo abrir a porta. Feito isso, Cristão viu
pendurado na parede o quadro de uma pessoa bastante séria. Esta era a sua
aparência: os olhos estavam erguidos aos céus; nas mãos trazia o melhor dos
livros; a lei da verdade lhe estava escrita nos lábios; o mundo estava às suas
costas; pela postura parecia apelar aos homens, e da cabeça lhe pendia uma
coroa de ouro.
Cristão:
— O que significa isso?
Intérprete:
— O homem cuja figura você está vendo é um entre mil. Pode gerar filhos, dá-los
à luz e ainda amamentá-los ele mesmo, depois. E se você o vê de olhos erguidos
aos céus, com o melhor dos livros nas mãos e a lei da verdade gravada nos
lábios, é para mostrar-lhe que o trabalho dele é conhecer e revelar coisas sombrias
aos pecadores, como também apelar aos homens.
— Se você
vê o mundo às suas costas – continuou Intérprete – e uma coroa pendendo da
cabeça dele, isso é para mostrar-lhe que, desprezando e desdenhando as coisas
presentes pelo amor com que serve ao seu Mestre, certamente terá por recompensa
a glória, no mundo que há de vir.
— Ora –
disse ele ainda – , mostrei-lhe primeiro este quadro porque o homem cuja figura
você está vendo é o único homem a quem o Senhor do lugar para onde você está
indo autorizou para guiá-lo em todos os lugares difíceis que você talvez
encontre pelo caminho.
Tal visão
de ministério foi compartilhada por Charles Spurgeon (1834-1892), G. Campbell
Morgan (1863-1945), Roland Allen (1868-1947), Benjamin B. Warfield (1851-1921),
D. Martyn Lloyd-Jones (1939-1981) e, mais recentemente, Richard C. Halverson,
Jay Adams, John MacArthur, Jr., David Hansen e Eugene Peterson. Este último,
cujos escritos começam a ser publicados no Brasil, escreve que “a orientação
espiritual é a tarefa de ajudar uma pessoa a levar a sério o que é deixado de
lado pela mente tomada pela publicidade e farta de crises”. Tal tarefa, segundo
ele, cabe ao pastor, aquele que precisa “lidar com o óbvio, com o pecado e o
Espírito” (PETERSON, 2000, p. 138, 141.).
O pastor e sua denominação
O rito de
entrada no ministério pastoral é a ordenação do presbitério, que é um conselho
formado de presbíteros docentes e regentes (1Tm 4.14 — CALVINO, Institutas,
IV.III.XVI; CI/IPB, Art. 28). A partir de então, o ministro administra diversos
relacionamentos eclesiásticos:
- Pelo menos da Igreja
Presbiteriana do Brasil, ainda que “para atender às leis civis” (Arts. 27
e 38 da CI/IPB) o ministro seja considerado membro na igreja em que é
pastor, ele está sob a jurisdição, de fato, de seu presbitério. É nesse
âmbito conciliar que o pastor presta contas de seu serviço.
- Civil e criminalmente o
ministro é o responsável pela administração geral da igreja,
representando-a “ativa, passiva, judicial e extra-judicialmente” (Art. 3,
parágrafo único do Estatuto da Igreja Local).
- Isso confere ao pastor
responsabilidades tanto locais quanto extra-locais, exigindo sua dedicação
em atividades de ensino, gestão de concílios (presbitério, sínodo e
supremo concílio) e autarquias e comissões.
Tais
relacionamentos, exemplificados no ministério presbiteriano, são reproduzidos
em outros sistemas de governo. A prática pastoral é forçosamente
multidisciplinar. O pastoreio exige, simultaneamente, o cultivo de vida
devocional, estudo sistemático das Escrituras e da teologia, liderança
estratégica, administração dos negócios temporais da igreja e contato pessoal
com o rebanho.
Sumário da Teologia de Ministério
De acordo
com as Escrituras, os símbolos de fé e a boa tradição reformada, o ministro é
um cristão regenerado, piedoso, humilde, vocacionado e capacitado pelo Espírito
Santo, ordenado e dedicado para amar, guiar, alimentar, consolar, estimular,
aconselhar, corrigir, cuidar, treinar, fortalecer e proteger o povo de Deus.
Ele não
encontra estímulo nem é atendido pelos valores ou ferramentas seculares, e sim
na comunhão pessoal com o Senhor, nos meios de graça e nas estratégias
determinadas em sua Palavra. Seu sucesso não é avaliado utilizando critérios
humanistas ou comerciais, mas em termos do recebimento do galardão eterno, como
selo de sua fidelidade ao chamado recebido (At 20.24; 2Tm 4.7-8; 1Pe 5.1-4).
Conclusão
A Igreja
é a comunidade comissionada, responsável pela proclamação do evangelho e
edificação dos crentes. Ela é guiada, consolada e suprida pela presença e poder
do Espírito Santo, que distribui dons e vocaciona os ministros.
Deus
concede à igreja os meios de graça, através dos quais esta supre não apenas as
necessidades espirituais de sua membresia, mas também obtém provisão,
iluminação, forças e direção para o serviço. Sempre que a Igreja ou seus
pastores desviam-se da simplicidade e eficácia de tais meios, substituindo-os
por outras novidades e ferramentas, ocorrem desqualificação e enfraquecimento.
Nesse
sentido, a Igreja deve compreender sua identidade bíblica e histórica,
aprofundar-se na devoção e integração e mobilizar-se para o serviço, liderança
e vida de testemunho. Nesse ínterim, ela pode reavaliar a administração de seu
tempo e recursos, focalizando em compromissos que glorifiquem a Deus e produzam
a edificação dos crentes e o fortalecimento das famílias.
O
ministro deve implementar, além as estratégias de liderança e administração,
ações de pastoreio cuidadoso, atentando para cada membro em particular,
cumprindo fielmente suas atribuições. Alem disso, deve cumprir, com zelo, suas
responsabilidades conciliares e denominacionais, o que exigirá, certamente:
- Aprofundar e expandir a vida
devocional, através da oração e leitura das Escrituras e outros livros
piedosos.
- Administração cuidadosa da
agenda pastoral, priorizando os itens que contribuem para o exercício do
ministério bíblico.
Deus é
quem estabelece pastores para a sua Igreja (Jr 3.15). Tais pastores devem amar
e velar pelas almas dos fiéis. A Igreja, como corpo de Cristo, precisa
considerar e obedecer aos seus guias, enxergando-os como irmãos, sujeitos às
mesmas fraquezas, no entanto, chamados para um serviço de grande
responsabilidade (Hb 13.7, 17).
Deve-se
notar (…) que nem todos estão qualificados para o ministério da Palavra. Este
requer uma vocação especial. Aqueles que acreditam que estão bem qualificados
devem revestir-se de especial cuidado para não assumirem o ofício sem a vocação
(CALVINO, 2001, p. 36).
Referências bibliográficas
ASSEMBLÉIA
DE WESTMINSTER. Símbolos de Fé, contendo a Confissão de Fé, Catecismo
Maior/Breve. São Paulo: Cultura Cristã, 2005.
BAXTER,
Richard. O pastor aprovado. São Paulo: Publicações Evangélica
Selecionadas, 1989.
BERKHOF,
Louis. Teologia sistemática. 2ed. São Paulo: Cultura Cristã, 2001.
BEYREUTHER, E. Pastor. In: COENEN, Lothar; BROWN, Colin. (Ed.). Dicionário
internacional de teologia do Novo Testamento. 2ed. São Paulo: Vida Nova,
2000. v. 2. p. 1587-1592.
BUNYAN,
John. O peregrino. São Paulo: Mundo Cristão, 1999.
CALVINO,
João. Comentário à Sagrada Escritura: Romanos. São Paulo: Paracletos,
2001.
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As institutas: Edição clássica. São Paulo: Cultura Cristã, 2006. v.4.
CURRY,
Allan. Apostila da disciplina Teologia de Ministério. São Paulo: Centro
Presbiteriano de Pós-Graduação Andrew Jumper, 2003.
IGREJA
PRESBITERIANA DO BRASIL. Manual presbiteriano com jurisprudência. São
Paulo: Cultura Cristã, 2006.
PETERSON,
Eugene. Um pastor segundo o coração de Deus. Rio de Janeiro: Textus,
2000.
STITZINGER,
James F. O ministério pastoral na história. In: MACARTHUR JR., John. Ministério
pastoral: Alcançando a excelência no ministério cristão. 4ed. Rio de
Janeiro: Casa Publicadora das Assembléias de Deus, p. 51-77.
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