Análise de João 13: 31 ao 35
“Amai-vos uns aos outros como eu
vos amei”.
Um dos ensinamentos mais glorioso
do mestre Jesus é que as portas do inferno não prevaleriam contra sua amada
igreja (Mt 16:17). Este ensinamento revelador nos mostra uma verdade
importante: não é a igreja que tem que
recuar ante as investidas do inferno, pelo contrário, o inferno não pode parar
o avanço dos remidos no sangue do cordeiro!
Essa é a igreja que irá
transformar o mundo, que não aceita o pecado, que não vive a base do
entretenimento, que vive pela verdade, que luta contra o mal, que transforma
vidas.
Para Cristo estava tudo claro e
translúcido, mesmo ali na noite da traição. Porém para seus discípulos tudo se
torna difícil. São separados dele. Não podem correr imediatamente com ele ao
Pai e ver a sua glória. Jesus tem de dizer-lhes:
―Filhinhos, ainda por um pouco
estou convosco; buscar-me-eis, e o que eu disse aos judeus também agora vos
digo a vós outros: para onde eu vou, vós não podeis ir (v.33). Nessa hora em
que Jesus vê diante de si a aflição de seus discípulos, ele usa a palavra filhinhos.
Com amor cordial ele os abraça justamente agora na ocasião de sua fraqueza e
seu fracasso. Apenas um tempo muito breve ele estará com eles, depois estará
separado deles, e toda a busca por ele será em vão. Embora seus discípulos sejam
completamente diferentes dos judeus hostis, agora a palavra dita aos judeus (Jo
8.21) vale também para eles.
Que será deles? Como poderão
viver? Agora se torna importante que não sejam indivíduos solitários. Não estão
abandonados, têm uns aos outros e nesse companheirismo possuem a ajuda, a alegria,
o apoio, o alvo. É claro que tudo depende de que se amem uns aos outros. Por
isso Jesus lhes dá o novo mandamento justamente ao se despedir.
Novo mandamento vos dou: que vos ameis
uns aos outros; assim como eu vos amei, que também vos ameis uns aos outros
(v.34). Não é o décimo primeiro mandamento em acréscimo aos outros Dez
Mandamentos. Pelo contrário, é um mandamento que abarca todos os demais
mandamentos, descerrando seu verdadeiro sentido (Mt 22.40). Ele é novo pelo
fato de assumir o lugar dos numerosos mandamentos sob os quais os discípulos
viviam até então.
No entanto, de acordo com a
interpretação autêntica que o próprio João fornece em sua primeira carta, em
1Jo 2.7s, ele por outro lado não é novo, e sim o antigo mandamento, que mostra
a vontade originária e eterna de Deus. O Filho não pode nem quer jamais
invalidar os mandamentos do Pai, substituindo-os por um novo mandamento. Como
no Sermão do Monte, também aqui Jesus não está anulando a lei, mas cumprindo-a
(Mt 5.17) com seu novo mandamento.
Quando os discípulos se amam uns
aos outros, encontram em todas as situações e em todas as questões particulares
aquilo que devem fazer e deixar de fazer de acordo com a vontade de Jesus.Em
todos os casos o mandamento é novo por sua fundamentação. Ele não é
simplesmente colocado diante dos discípulos como lei, e sim é derivado do amor
de Jesus por eles. Jesus não ordena meramente o amor, mas declara: deveis amar
uns aos outros ―assim como eu vos amei.
Nisso há primeiramente uma
comparação. ―Amor é um termo de múltiplos significados. Temos de saber que
aspecto tem o amor genuíno. Isso Jesus nos mostra em todo seu suportar, lutar,
sofrer e morrer. No lava-pés ele esteve diante de nossos olhos. Agora somos
instruídos a amar como Jesus amou. O ―como desse seu amor caracteriza-se
sobretudo por um aspecto: Ele não é obstruído pelos desacertos, debilidade e
miserabilidade de seus discípulos. Pelo contrário, justamente então ele cresce para
chegar a sua máxima profundidade e potência, que se manifestam na cruz. Em consequência,
também o nosso amor mútuo não deve esmorecer por causa da aflição e culpa do
outro, mas encontrar justamente nisso o impulso para um amor mais profundo.
Contudo, será que um amor desses de fato é possível para nós? Será que Jesus
não está demandando algo que está além de nossas capacidades? Porém temos de considerar
que o termo grego ―kathos = como não contém uma conotação comparativa. No fato
de serem amados por Jesus são dados aos discípulos o fundamento e a força do
amor deles próprios. Não são eles que devem começar de si com o amor. Como fracassariam!
O amor de Jesus aconteceu primeiro. É desse amor que eles próprios já vieram.
Podem encarar uns aos outros como pessoas amadas pelo Senhor e salvas pelo empenho
da vida dele. Por ser amadas assim podem
desprender-se das exigências e amarras do próprio eu. ―Da nova graça da nova aliança
surge necessariamente um novo mandamento (Schlatter).
Trata-se do amor dos discípulos
uns pelos outros, do amor fraternal. Será que esse mandamento é suficiente para
apóstolos, ou seja, para emissários cuja verdadeira tarefa não reside no
serviço uns aos outros, mas em seu serviço ao mundo? Acontece que o amor fraternal
é a premissa fundamental de toda atuação da igreja de Jesus para fora. Quando a
igreja não vive ela mesma como um povo de irmãos, no qual de fato as pessoas se
amam, se suportam, se perdoam, se auxiliam e se corrigem, no qual as coisas
acontecem de forma totalmente diferente do que no mundo, então sua palavra evangelística
fica sem força, sendo permanentemente refutada pela realidade deplorável da
igreja. Inversamente, porém, a vida de uma comunhão humana em amor, alegria,
paciência, amabilidade, bondade e brandura representa por si mesma uma poderosa
evangelização, um testemunho eficaz para dentro do mundo, que em suas aflições
anseia por comunhão autêntica. Numa igreja dessas torna-se visível que Jesus é
verdadeiramente um Libertador e o que ele é capaz de realizar como Libertador.
―Nisto conhecerão todos que sois
meus discípulos: se tiverdes amor uns aos outros (v.35).
Todos conhecerão: isso novamente
não deve ter um sentido estatístico, em vista das palavras de Jesus em Jo
15.18-20; 16.1-3. Porém a todos, inclusive aos que no início não sabem bem o
que fazer com a mensagem, é dada a possibilidade de reconhecer. No amor mútuo
dos discípulos eles se deparam com uma realidade incontestável que os faz ficar
atentos. Vêem o relacionamento dessas pessoas com Jesus, que são discípulos
meus. Vêem através dos discípulos o próprio Jesus em sua atuação, abrindo-se
para a verdadeira mensagem dele.
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Maique de Souza Borges, é teólogo, estudante e amante da música sacra. Membro da Igreja Assembleia de Deus em Brasília, casado e pai de um filho. Tem interesse especial pela História da Igreja. É o criador do site Cooperadores do Evangelho. Profissionalmente atua no ramo farmacêutico e brinca de músico e programador nas horas vagas.
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