Por que
as pessoas querem excluir da natureza divina a ira e a justiça? Por que os
textos bíblicos onde esses atributos são manifestados encontram-se reclusos,
como se não fizessem parte do Evangelho e fosse proibido exibi-los? Por que
limitar Deus àquilo que mais agrada o coração do homem, de forma que lhe traga
um falso consolo? Por que Cristo é muitas vezes estigmatizado como se fosse um
molenga, não-viril, um “maria-vai-com-as-outras” que aceita tudo de
todos? Por que querem que Ele negue-se a Si mesmo em favor do homem? Por quê?
Por quê?... Compartimentá-lO, desagregá-lO de Si mesmo é uma tática maligna de
desprezar e rejeitar aquilo que Ele é. Infelizmente, entre os cristãos, não
parece haver uma unidade quanto ao verdadeiro Deus, quanto ao entendimento da
sua natureza, quanto ao que nos foi revelado na Escritura; e a maioria se sente
constrangida quando tem de dar explicação a uma passagem em que Deus pune,
disciplina, condena.
É como se
tivéssemos arrancado páginas e mais páginas da Bíblia a fim de não sermos
incomodados com situações violentas, mas que revelam o poder soberano e justo
dEle. Não é essa atitude uma violação à natureza divina? O arrogante desprezo
de não reconhecer a superioridade da Sua revelação em detrimento da nossa reles
concepção? Acontece que cristãos fracos têm pregado doutrinas fracas em que um
deus fraco é incapaz de atitudes soberanas; ao contrário, esses cristãos
raquíticos proclamam um evangelho caquético de um deus defeituoso e imperfeito
que não ultrapassa a extensão da mente obliterada pelas trevas.
Como
Marcião e tantos outros heréticos, os pseudocristãos estão mais preocupados em
não se envolverem em dificuldades, em facilitarem o seu trabalho, em adequarem
a mensagem do evangelho ao estado servil, ao utilitarismo em que muitos
ministérios reduziram a Escritura, como o meio de se atingir os seus objetivos
iníquos e fraudulentos. No fundo, é um evangelho covarde e bajulador, seguido
por uma turba de tolos e impenitentes que, não ingenuamente, estão preocupados
em atender os seus próprios interesses, crendo que a pregação espúria de um
falso cristianismo será a sua “taboa de salvação” financeira, emocional
e espiritual. São cegos guiando cegos até o precipício mais tenebroso da
ignorância, da desfaçatez, da estupidez, e da malícia diabólica. Não há
inocentes, são todos culpados dos piores pecados contra Deus, enquanto mantêm
bilhões manietados por uma discursividade cativa ao impudor satânico.
O
objetivo é um só: glorificar o homem, e usar o nome do Senhor como uma espécie
de muleta na qual os seus infames propósitos de poder, glória e riquezas
realizar-se-ão. Não há nada de espiritual neles, apenas a carne gritando como
louca, seduzindo a si mesma, na manifestação mais doentiamente possível da
corrupção, rebeldia e irregeneração mental do homem caído.
Mesmo
servos fiéis, mentes brilhantes, teólogos, pastores, missionários e outros
trabalhadores dedicados à seara de Cristo, são apanhados na teia maligna de
distinguir os atributos divinos em dois grupos: os facilmente detectáveis, e
com os quais se tornará menos difícil manter um discurso agradável aos ouvidos
impuros (questões como o amor, a bondade e benignidade divinas são reciclados
de maneira tão antagônicas à revelação escriturística que se tornam em
distorções da Sua natureza), e aqueles com os quais se deve manter distância,
quando muito citá-los rapidamente a fim de não serem notados pelo ouvinte, e
nem seja necessário dar explicações que denunciarão a inclinação viciosa da
pregação. Poder-se-ia chamar de negligência, omissão, se não fosse um
estratagema maroto e cínico de se ocultar a verdade.
É por
isso que se está a criar uma geração de crentes fracos, incapazes de responder
ao mundo a razão da fé cristã. Assim, se limitam a ecoar os ditames seculares
da tolerância, da contemporização, quando a sociedade é completamente
intolerante e intransigente quanto a Cristo e Sua palavra.
Por isso,
eles não aceitam Cristo como a única verdade, como o único caminho, como a
única vida. Por isso, não aceitam o Cristo irado, vingador, que julgará e
condenará os pecadores impenitentes. Por isso, não aceitam Cristo como único
Rei, Senhor e Salvador, porque, desta forma, teriam de se sujeitar ao Seu
reinado e senhorio. Por isso, se criou uma imagem de um Cristo subserviente,
adocicado, meigo até ao nível da mais pavorosa demência. Por isso, não querem
ser confrontados pela Palavra, mas criarem a sua própria interpretação
falaciosa, conduzindo-a até aquele cantinho onde o homem jaz morto; onde a
última pá de terra é jogada sobre o seu cadáver.
Alguns
gnósticos retrataram Cristo assim, como um ser espiritual neutro, inofensivo,
abestalhado. Católicos e espíritas descrevem-no quase como se fosse uma donzela
indefesa; outros, como um lunático. Há os que O pintam como um homem comum,
sujeito às fraquezas e passível de erros. Há os que ainda O vêem como um
perigoso potencial, um revolucionário temível. Há os que simplesmente O
ignoram, e ainda aqueles que O desdenham. Contudo, Paulo alerta: "Não
erreis: Deus não se deixa escarnecer; porque tudo o que o homem semear, isso
também ceifará" (Gl 6.7); mas os tolos não ouvem avisos nem os
consideram. São rebeldes obstinados, aos quais está destinada a condenação
eterna, e, ainda assim, mesmo no inferno, considerar-se-ão certos em sua inútil
revolta.
A verdade
é que Cristo é o Senhor de todas as coisas, o Deus Vivo em que “habita
corporalmente toda a plenitude da divindade” (Cl 2.9); o Senhor dos
Exércitos (Sl 84.3), o Guerreiro (Ap 19.13-16) , o Justo (Tg
5.6), o Unigênito Filho Amado de Deus (Jo 1.18), o Criador de todas
as coisas sem o qual nada existiria (Jo 1.3), o Salvador (Tt 3.6)
e Juiz (At 10.42). Será que estas qualidades anulam o Seu amor, bondade,
benignidade, santidade e retidão? NÃO! Todas elas são atributos divinos, e não
podem ser repartidas como se possível fosse setorizá-lO. Qualquer tentativa de
separar a unidade divina, puxando-a para um lado ou outro, é desqualificá-lO,
reduzi-lO a um arremedo daquilo que Ele mesmo revelou-nos. É o pecado supremo
de não glorificá-lO; de esquecer, não temer, nem servi-lO como Deus zeloso,
cuja ira se acende contra todo o rebelde. Nenhum profeta ou apóstolo teve a
audácia e insolência de minimizá-lO, antes foram guiados pelo Espírito Santo na
coragem e obediência em descrevê-lO assim como Ele é, assim como se deixou
mostrar e quis se revelar.
Como
sempre digo, a verdade não precisa ser defendida, mas proclamada (porque
anunciar a verdade é a forma de melhor defendê-la do embuste, ao revelar-lhe a
artimanha e o seu artificioso ardil). Deus não precisa que o defendamos de
supostos ataques humanistas e das investidas diabólicas, mas Ele precisa ser
proclamado como a Bíblia O revela: Deus Todo-Poderoso, soberano e Senhor de
tudo e todos, não uma bijuteria sobre a mesa da qual nos lembramos apenas
quando se vai tirar o pó. De outra forma, como os eleitos serão regenerados e
abandonarão as falsas doutrinas? E como os santos serão feitos à imagem
perfeita de Cristo?
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ou rejeitar partes da revelação divina em nada afeta a Sua natureza e glória,
mas nos coloca em “maus-lençóis”, ao tornar-nos odiosos diante dEle, que
não tem por inocente aquele que tomar o Seu nome em vão (Ex 20.7).
Que se
pregue o Evangelho da verdade, em sua totalidade, não aquilo que pode ser
conveniente e falsamente interpretado como a completude da revelação, quando
não passa de um fragmento descontextualizado em que uma mínima parte verdadeira
é reunida a uma maioria mentirosa e, assim, utilizada para construir e validar
um complexo falacioso.
Deus é
Todo-Poderoso, e não há nada nEle que O envergonhe, porque é santo, justo e o
único Senhor. Da mesma forma, não pode haver nada que nos escandalize na
Escritura (refiro-me a Deus, Sua natureza, propósitos e ações, pois, o diabo,
seus anjos e os homens são completamente reprováveis e escandalosos), antes
rendamos honra e glória ao Deus que está diante de nós, e pelo qual somos
chamados a confiar no Evangelho como a Sua fiel revelação.
E
livremo-nos definitivamente do evangelho capenga do deus falseado, para se
viver a verdade santa e objetiva da Palavra do Deus Vivo.
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