No século XIX, as culturas francesa e inglesa eram as queridinhas dos brasileiros “instruídos”. De certo modo, também influenciaram o gosto das camadas populares. Foi principalmente a partir da Segunda Guerra que a cultura norte-americana começou a seduzir os brasileiros. Até o começo dos anos 1930, os EUA consideravam a América Central e o Caribe uma espécie de quintal particular[1]. De vez em quando os mariners (fuzileiros navais) desembarcavam para derrubar governos que atrapalhavam os investimentos dos EUA no estrangeiro. Essas intervenções eram a famosa política do Big Stick (grande porrete). Claro que isso gerou ressentimentos. A onda nacionalista que varreu o mundo naquela década também influenciou a América Latina. A brutalidade das invasões não podia ser mais repetida. Pelo menos, nem sempre. Era preciso uma estratégia mais sutil de influência.
Ela veio a partir
de 1933, quando o presidente Roosevelt anunciou a Política da Boa Vizinhança. Em nome da “colaboração”, os EUA
continuariam exercendo suas pressões sobre os vizinhos. Dentro deste novo
quadro, o governo norte-americano queria eliminar a influência nazista sobre o
Brasil. Montou um esquema poderoso, que incluía várias empresas, funcionários
especializados do governo e dezenas de milhões de dólares. Assim, nos anos
1940, o Brasil foi bombardeado por mercadorias norte-americanas, que preenchiam
as necessidades do estômago e da fantasia. De repente, os brasileiros
descobriram as lâmpadas e rádios General Electric, o sabonete Palmolive, a
pasta Kolynos, o talco Night & Day, os filmes Kodak, a aveia Quaker e, o
sabor dos sabores, o elixir dos deuses ianques, a Coca-Cola. A classe média se
imaginava culta porque lia os artigos da Seleções
do Reader’s Digest, recheados de exemplos do american way of life (modo de vida americano): filhos obedientes,
esposas satisfeitas com os novos e vibrantes eletrodomésticos, o cachorro de
estimação, a certeza de que tudo aquilo que não imitasse esses valores e essa
mediocridade cotidiana só poderia ser ruim, agressivo, odioso.
O cinema de Hollywood encantava
as multidões. Não é curioso que exatamente na mesma época em que as massas
veneravam os chefes políticos como Roosevelt, Churchill, Stálin, Perón,
Mussolini e Hitler, elas também venerassem as estrelas da tela? No Brasil dos
anos 40 ainda não havia televisão. Imagem mesmo era no cinema. Pois os EUA
enviavam, de graça, centenas de documentários para serem exibidos no começo das
sessões brasileiras[2].
Imagens bonitas revelavam a tecnologia, o bem-estar, os valores democráticos
dos americanos. Pouca gente poderia ficar indiferente àquilo tudo. Ficava
difícil não acreditar que os EUA eram o melhor país do planeta. Aproveitando a
onda, Walt Disney resolveu fazer um filme apresentando as “maravilhas do
Brasil”. Na película, não mostravam baianas negras ou mulatas para não ofender
as elites brasileiras nem o público preconceituoso dos EUA. Na fita, o pato
Donald abraçava uma personagem especialmente criada para a ocasião: Zé Carioca.
Por: Maique Borges
[1]
Caso consiga acesso e domine bem o inglês, recomendo a leitura do livro: The
United States and The Caribbean edited by Tad Szulc. Editora A Spectrum Book –
Prentice-Hall, Inc., Englewood Cliffs, N. J. da Assembleia Americana [The
American Assembly, Columbia University], (disponível apenas em inglês).
[2]
Schmidt, Mario Furley. Nova história crítica: ensino médio: volume único 1ª ed.
– São Paulo: Nova
Geração, 2005. Pg. 590
Permissões: Você está autorizado e incentivado a reproduzir, distribuir ou divulgar este material em qualquer formato, desde que informe o autor, seu ministério, e o tradutor, não altere o conteúdo original e não o utilize para fins comerciais.
Maique de Souza Borges, é teólogo, estudante e amante da música sacra. Membro da Igreja Assembleia de Deus em Brasília, casado e pai de um filho. Tem interesse especial pela História da Igreja. É o criador do site Cooperadores do Evangelho. Profissionalmente atua no ramo farmacêutico e brinca de músico e programador nas horas vagas.
0 Comentários
Os comentários são de responsabilidade exclusiva de seus autores e não representam necessariamente a opinião deste site.
Confira nossa Política de Comentários para se adequar aos padrões de ética e compliance da nossa comunidade.