John Mackay, presidente do Seminário de Princeton, em seu livro O Sentido da Vida trata desta questão maiúscula e fundamental para a sociedade que é a vocação. Não podemos subestimar esse tema. Ele deve ser discutido no lar, na igreja, na academia e nas mais nobres instituições humanas.
O sentido da vocação é um dos sentidos superiores do homem. É o sentido que o leva a realizar com desinteresse e denodo as maiores empresas. Nos momentos sombrios proporciona-lhe luz, nos transes difíceis incute-lhe novo ânimo.
Vamos destacar alguns princípios que devem orientar a família no trato dessa magna matéria:
1. A vocação é o vetor que rege nossas escolhas
Vivemos numa sociedade embriagada pelo lucro. As pessoas são valorizadas pelo que possuem e não pela dignidade do caráter. O dinheiro e o lucro tornaram-se os vetores das escolhas profissionais. Nessa perspectiva uma pessoa bem sucedida não é aquela que proporciona um maior bem aos outros, mas aquele que ajunta mais tesouros para si. A ganância insaciável é plantada na mente das crianças. Os livros que abrem avenidas para o enriquecimento rápido multiplicam-se nas prateleiras. No mercado global e consumista o lucro é o oxigênio que rega os pulmões da sociedade. Mas, o prazer de fazer o que se é chamado para fazer e a alegria de estar trabalhando numa área aonde a contribuição com a sociedade seja mais importante do que a busca da recompensa financeira precisa ser proclamada aos ouvidos da nação. A riqueza em si não satisfaz, mas o senso do dever cumprido, movido pela alavanca da vocação traz uma alegria indizível.
2. A vocação é a consciência de se estar no lugar certo, fazendo a coisa certa
O problema da vocação é talvez o problema social mais grave e urgente, aquele que constitui o fundamento de todos os outros. O problema social não é apenas uma questão de divisão de riquezas, produtos do trabalho, mas um problema de divisão de vocações, modos de produzir. Um dos mais graves problemas da sociedade contemporânea é que de um lado, há grande quantidade de pessoas sem trabalho ou vocação, e, do outro, quantidade muito maior que não sente vocação para o papel que desempenha. Muitos carecem de convicção vocacional nos cargos que desempenham. São médicos, advogados, legisladores, funcionários públicos, pastores, professores, estudantes e outros profissionais, de quem não se pode dizer senão isto: sabem sê-lo. Cada um tem posição; mas nenhum, vocação. Esses pensam somente nas vantagens que hão de desfrutar e não no bem que podem fazer. Que tragédia quando grande quantidade dos homens de um país procura cargos, em lugar de vocações!
Um indivíduo com senso de vocação tem profundo amor pelo que faz, dedica-se ao que faz e o faz com esmero. Sem vocação não há paixão nem idealismo na profissão. A maior recompensa de um trabalho não é o lucro pessoal auferido, mas a alegria do dever cumprido e a certeza de que se promoveu o bem maior para um número maior de pessoas.
3. Vocação pode ser tanto um pendor quanto um chamado
Em geral, encontra-se a vocação por um destes dois meios: o descobrimento de uma capacidade especial, ou a visão de uma necessidade urgente, diz John Mackay. O pendor natural de uma pessoa para uma área é um sinal claro da vocação. O vocacionado é aquele que tem alegria de fazer o que faz, por isso, tem melhor desempenho no que faz. Seus dotes são demonstrados por ele e reconhecidos pelos outros. Muitas vezes essa descoberta é feita através da leitura de biografias. É na luz dos homens superiores que se deve acender a chama do ideal e perscrutar os horizontes do destino. Enxergamos mais longe quando subimos nos ombros dos gigantes. Inspirar-nos na vida dos herois é ter a visão do farol alto, é alargar a fronteira dos nossos horizontes. A vocação não raro vem também pelo simples conhecimento de uma grande necessidade. Neemias, ao ser informado sobre a triste condição do povo que regressara da Babilônia, entregue à pobreza e à miséria, deixou seu posto de conforto na cidadela de Susã para ser o restaurador da sua nação. O conhecimento das necessidades à nossa volta nos responsabiliza e muitas vezes pavimenta o nosso caminho rumo ao futuro. A maioria dos grandes benfeitores da humanidade encontrou a vocação achando-se, num momento determinado da vida, face a face com uma situação grave que, imperiosamente, reclamava solução. Quase todas as grandes instituições filantrópicas foram fundadas por homens e mulheres que, como Florence Nightingale, fundadora da Cruz Vermelha, acharam a vocação na tarefa de enfrentar necessidades prementes.
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