Introdução ao
Apocalipse: Desconstruindo Mitos Para Construir a Mensagem Original do Autor
Por: Samuel Magalhães,
artigo elaborado para o IBAD
1. Do que se trata realmente o Apocalipse?
Nunca houve um livro tão
intrigante, perturbador e inquietante como o Apocalipse de São João. Penso que
a mídia moderna tem usado este livro para desencadear terrores nas pessoas de
mentes simples. O ser humano por sinal já tem uma tendência ao inusitado, ao
irreal, ao misticismo e a abordagem sensacionalista a este gênero acabam por
sinal desvirtuando e desconstruindo seu real conteúdo e significado que seu autor
tinha o intuito de transmitir. Começo a analise deste livro com as
Palavras da teóloga católica Maria Izabel de Oliveira Tengu:
“O apocalipse não é um livro de previsões
sobre o fim do mundo, uma espécie de adivinhação do futuro, como muitos
afirmam. Devemos compreendê-lo como revelação, testemunho e profecia que mostra
o sentindo da vida das igrejas na história”.
Palavras bastante claras que nos
ajuda a nos situar para iniciarmos uma abordagem a este gênero textual.
.
1.1 “Sitz in lebem”. Em Busca do Contexto
para Entender a Mensagem.
A fé cristã estava sendo
proclamada em todo mundo pela terceira a quarta geração de discípulos de
Cristo, o mundo “pagão” estava sendo confrontado com a idéia de que um deus
veio habitar entre nós e todos os outros deuses são falsos, pois este Deus é
“único Deus verdadeiro, os restantes são nada”. Esta nova fé começava a quebrar
a unidade do mundo daqueles dias que em sua grande maioria tinha e adorava vários
deuses, crendo apenas que havia deuses maiores e outros menores, mais todos os
deuses tinham valores. Sobre esta unidade é interessante analisar as ideias do teólogo
alemão luterano, Dietrich Bonhoeefer:
“Jesus Cristo fez do ocidente uma
unidade histórica. Os grandes marcos da história abrangem todo o ocidente. A
unidade do ocidente não é mera ideia, mas uma realidade histórica cuja a única
causa é Cristo... A igreja é o lugar onde se proclama e acontece o processo em
que Jesus Cristo toma forma”. (Dietrich Bonhoeefer. Éthik. Editora Sinodal, p.61-63).
1.2 Paganismo Como Estrutura
é o Conflito Desestabilizador da Unidade do Mundo Ocidental por Causa da Fé
Cristã
As ideias de Bonhoeefer nos
ajudaram a lançar luz de maneira indireta a este tema: o mundo é pagão, a
ideologia da fé acaba criando um conflito com a ordem do pensamento
ocidental. O apocalipse será escrito nesse momento inicial de Cristo
contra a cosmo visão que o mundo pagão interpretava a realidade. Desse
conflito ideológico irá surgir o ódio a estes “fanáticos” que pensa diferente
de todos, que não honra os deuses (que falta de respeito!), que não come
refeições sagradas nos templos (que falta de ética), diz que a fé deles é a
única certa (preconceito!), e para piorar estão ensinando os nossos filhos suas
crenças, enganando as “tolas mulheres”, além disso, são imorais pois não deixa
seus filhos e suas mulheres servir com seus corpos nas festas a Baco (Deus do
vinho, da orgia, seu nome para os gregos é Dionísio) ,além disso, “eles comem a
carne do seu próprio deus, onde já se viu isso!), e não participa do culto ao
imperador (são anarquista com certeza ou no mínimo eles estão se reunindo em
casas por que estão se armando para destruir o império e impor esta fé bizarra
a todos nós homens de bem).
1.3 O Conflito Começa. Quem Irá Ter
o Controle do Mundo?
O imperador precisa manter
a unidade do seu império como Jesus mesmo nos ensinou: “Todo Reino dividido não
pode permanecer em pé”. Desde o incêndio criminoso em Roma causado por César
Nero (56 D.C.) o mundo pensou que os cristãos anarquistas haviam colocado fogo
em Roma! “NOSSA OS CRISTÃOS COLOCARAM FOGO EM ROMA”, os inimigos de Roma com
certeza se alegraram com isso, mais como os soldados das legiões de Roma viram
isso? “MAIS QUE MISERÁVEIS! MATEM A TODOS”, como o povo romano viu isso: “MAIS
QUE MISERÁVEIS! MATEM A TODOS”, ou seja, para os cristãos o grito é “FUJAM, DO
MEIO DELA”. No momento que apocalipse é escrito estava tendo uma imensa
perseguição instigada por Domiciliano (666) “CÉSAR THEOS”.
Como Saber se Você era Leal ao Imperador?
Simples, você deveria participar
do culto ao imperador para mostrar a sua lealdade ao império! Porém os cristãos
adoram somente o seu Deus, qualquer adoração (latria) a qualquer coisa que não
seja Deus (idólos) é uma “eidolátreia”, o mesmo que apostasia, ou seja, o
raciocínio é bem simples: Todas as pessoas leais ao império participam do culto
ao imperador(a), a pena para os insubmissos é a morte(b),os cristãos não
participam desse culto, logo são traidores(c) e como resultado disso devem ser
mortos!(d).
2. São João preso precisa animar,
exortar, anunciar a mensagem de Deus para estas comunidades, porém ele não pode
ser claro, isto é, ele precisa construir a percepção que ele têm do Espírito em
códigos para as comunidades de Cristãos nas principais regiões de perseguição.
2.1 São João escolhe um antigo
gênero judaico para transmitir suas mensagens: “o apocaliptico-profético”.
H. M. Feret (1968)
deixa bem claro isso:
“O apocalipse é, essencialmente, um
livro do mundo judaíco-cristão. Pelo gênero literário, tão desconcertante, para
um leitor moderno não iniciado, o livro pertence a uma tradição
essencialmente judaica, que é a tradição apocalíptica…. o apocalipse aparece
dentro da tradição religiosa de Israel, nas sinagogas”.
Então para nosso entendimento
temos que ter este entendimento fixo em nossa mente, não temos o direito de
interpretar esse livro literalmente, ou seja, não pense que um dia aparecerá
dragões na terra, estrelas caindo dos céus, pois tudo isso é apenas simbologia
judaica. Porém cabe fazer um ponto que em alguns momentos a também profecias
dentro desse livro, porém a fronteira entre esses dois gêneros são bem curtas e
em alguns momentos é impossível fazer a distinção.
2.2 Entrando nos Símbolos
Seguindo a Feret, Temos Assim:
a) O Número 7. Sete
igrejas, sete selos, sete trombetas, sete bem-aventurados. Traz uma ideia
de totalidade, de plenitude, de perfeição.
b) Número 4. Quatro cantos (mar, terra,
céu, abismo).
c) Numero 3. Deus, Divino (Pai, Filho,
Espírito).
d) Número 6. É o número que
chegou mais perto do sete (perfeição) uma tentativa de querer ser Deus, imitar
Deus, ou seja, algo ruim pecaminoso, falso, mau.
e) Número 12. Também é símbolo de
perfeição. 12 Apóstolos, 12 Portas, 12 Tronos, 12 Tribos mais é especialmente
ligado ao triunfo da Igreja.
f) O Número 666. Símbolo de César
Nero na contagem de letras que simboliza o imperador.
g) Os 144 mil Selados:
símbolos de salvação dos eleitos de Deus.
h) O dragão é mencionado dozes
vezes, o cordeiro 24 vezes - sempre a metade, numa tentativa de ser igual Deus.
2.3 O Cordeiro (pureza)
ressuscitou e Ele cuida da sua Igreja (Apocalipse1:9-19).
São João tem uma visão da glória e
do Cordeiro, o objetivo é transmitir para a comunidade da fé que Cristo (ele é
apresentado como um poderoso Rei) está vivo e manda, comanda a sua igreja - não
tema “o imperador, pois quem está conosco é o Senhor (Kirios) do Universo).
2.4 Cristo está com seu olhar em
todas as igrejas e não é porque as coisas estão difíceis que podemos ser “igreja
a nossa maneira” (Apocalipse 2 – 3).
Note que a Mensagem Tem Estrutura:
(exemplo na Igreja de Éfeso)
a) Elogios 2:2, 3, 6.
b) Aponta os defeitos e pecados (v.
4).
c) Solução para os problema
(v.5).
d) Ameaça, caso não haja mudança (v.5).
e) Promessa para os fiéis (v.7).
Anjo aqui significa o mensageiro,
o pastor que transmite “as boas novas”, que tem a função de cuidar da vida
espiritual da igreja.
2.5 Cores (Apocalipse 6)
Cavalo (mensagem) Cavaleiro (anunciador) - uma mensagem vindo.
Branco: Pode ser o Evangelho, o
próprio Cristo.
Vermelho: Guerras sangrentas.
Preto: Fome.
Verde: Peste, doenças, etc.
2.6 O culto no céu e Deus
entrega o governo do mundo a Cristo (Cap. 4 – 6).
2.6 Mulher: Pode ser em alguns
Maria, a Igreja e as falsas religiões pagãs Romanas que contaminavam todo
mundo.
2.7 Cidade: Jerusalém como símbolo
do céu, da morada do Deus verdadeiro, o povo de Deus estão na Jerusalém, sendo
que no final os cristãos serão felizes nessa cidade (céu).
Babilônia: Símbolo
das religiões pagãs. Os ímpios moram nessa cidade.
2.8 Besta, Dragão, Falso Profeta:
Símbolos da perseguição do império Romano ao povo de Deus, inclusive com o
culto da “besta” (imperador) feita por sacerdotes imperiais.
3.0 Tese do livro
Principal.
O povo de Deus está sendo
perseguido, o sangue deles clamam no altar de Deus “faze-nos justiça o Senhor”,
a vida cristã está inserida dentro de um grande sofrimento e não podemos ceder.
Temos que ser “fiéis até a morte”, em busca daquela coroa bendita que São
Paulo nos falou, mais a ideia principal do livro é que Deus Reina! Deus
Reina! Por mais que as coisas estejam ruins, nós temos uma esperança em Deus e
o mundo terá fim, o sofrimento acabará “Pois Deus enxugará de seus olhos todas
as lágrimas”. E os perseguidores de Deus e da Igreja e os pagãos terão que
prestar contas a Deus no Juízo Final.
“Bem aventurado o que lê e escuta
as palavras dessa profecia”.
Fontes indicadas, usadas na elaboração desse
artigo.
1. Bíblia de Jerusalém. Editora
Paulus. São Paulo, 2002. p. 2. 139-41.
2. Grant R. Osborne. A Espiral
Hermenêutica uma nova abordagem a interpretação Bíblica. Editora Vida Nova
2009. São Paulo 351-70.
3. Carson et al. Introdução ao
Novo Testamento. Editora Vida Nova, 1997. p. 518-556.
4. Antônio Guilhermes Grings. A Bíblia
essa desconhecida. Editora La Sale 1975. Rio Grande Do Sul. p. 167-81. apud Feret.
5. Maria Izabel. Alegria de Viver.
Educação Religiosa. Editora Moderna 1997 p.11.
6. Bonhoeefer. Ética. Editora
Sinodal.
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Samuel Carneiro Magalhães é militar lotado na Marinha do Brasil, Enfermeiro e terapeuta holístico. Tem Graduação em Teologia pela Universidade Luterana do Brasil. É também graduado em Enfermagem pelo Instituto de Ensino Superior de Minas Gerais com aperfeiçoamento em Reiki I e II, fitoterapia e em Florais de Bach. Além de Ensino Profissional de nível técnico, complementação técnica em Enfermagem.
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