Se você tivesse se unido a uma igreja que prega uma teologia da TULIP, isso significa que: a) o pastor coloca flores no pão da ceia; b) o pastor crê que as flores que surgem novamente toda primavera simbolizam a ressurreição; ou c) o pastor é um calvinista?
Como um número cada vez maior de cristãos sabe, a resposta é a letra “c”. O acrônimo [em inglês] resume as chamadas doutrinas da graça de João Calvino, com sua ênfase na pecaminosidade e na predestinação. O “T” significa a Total Depravação do homem. O “U” significa a Eleição Incondicional, que quer dizer que Deus já decidiu quem será salvo, independente de qualquer condição na própria pessoa, ou em qualquer coisa que ela possa fazer para conquistar sua salvação.
O acrônimo não fica mais animador depois.
O evangelicalismo está no meio de um avivamento calvinista. Números cada vez maiores de pregadores e professores ensinam as visões do reformador francês do século 16. Mark Driscoll, John Piper e Tim Keller — pregadores de megaigrejas e importantes escritores evangélicos — são todos calvinistas. A frequência em conferências e igrejas de influência calvinista está em alta, especialmente entre os fiéis nas casas dos 20 e 30 anos de idade.
Na Southern Baptist Convention (Convenção Batista do Sul), a maior denominação protestante dos Estados Unidos, a ascensão do calvinismo provocou discórdia. Em 2012, uma pesquisa abrangendo 1.066 pastores batistas do sul conduzida pela LifeWay Research, um grupo sem fins lucrativos associado à Southern Baptist Convention, 30% consideraram suas igrejas calvinistas, enquanto que 60% estavam preocupados “com o impacto do calvinismo”.
Calvinismo é uma orientação teológica, não uma denominação ou organização. Os puritanos eram calvinistas. Os presbiterianos são provenientes dos calvinistas escoceses. Muitos batistas primitivos eram calvinistas. Mas no século 19 o protestantismo se moveu em direção à crença não-calvinista de que os seres humanos devem consentir com sua própria salvação — uma crença otimista e americana por excelência. Hoje, nos Estados Unidos, uma grande denominação (a Presbyterian Church in America) é assumidamente calvinista.
Mas mais ou menos nos últimos 30 anos, os calvinistas têm ganhado proeminência em outros ramos do protestantismo e em igrejas que costumavam dar pouca importância à teologia. Em 1994, quando Mark Dever foi entrevistado na Capitol Hill Baptist Church, uma igreja batista do sul em Washington, o comitê de seleção nem mesmo teve que pergunta-lo a respeito de sua teologia.
“Então eu disse: ‘Deixe-me pensar no que vocês não gostariam em mim se soubessem’”, lembra Dever. E lhes contou que ele era um calvinista. “E eu tive que explicar para eles o que isso significava. Eu não queria que minha família se mudasse para cá e eu acabasse perdendo o emprego”.
Dever, 53, disse que quando assumiu em 1994, cerca de 130 membros frequentavam aos domingos, e a idade média deles era entre os 70 anos. Hoje igreja recebe cerca de 1.000 fiéis, com uma idade média entre os 30 anos. E embora Dever tenda a não mencionar Calvino em seus sermões, seu educado público, muitos dos quais trabalham na política, sabe e gosta do que está ouvindo.
“Penso que é perceptível em seu ensino”, diz Sarah Rotman, 34, que trabalha para o World Bank. “O foco real é na Escritura, e que todas as respostas que buscamos nesta vida podem ser encontradas na palavra de Deus. Em muitas de suas pregações, ele realmente fala sobre nossa pecaminosidade e nossa necessidade do Salvador”.
Tal foco na pecaminosidade difere muito do evangelicalismo popular dos últimos anos. Ele corre na contramão dos pregadores do “evangelho da prosperidade”, que insinuam que a fé pode tornar uma pessoa rica. Ele não soa nada como as afirmações que apelam às emoções de pregadores e escritores como Joel Osteen, que tratam a Bíblia como um livro de autoajuda ou um guia para melhorar os negócios.
“O que você ouve em algumas megaigrejas é: ‘Deus quer que você seja um bom pai, e aqui há sete formas em que Deus pode lhe ajudar a ser um bom pai’”, diz Collin Hansen, autor de “Young, Restless, Reformed: A Journalist’s Journey With the New Calvinists” [“Jovens, Incansáveis, Reformados: A Jornada de um Jornalista com os Novos Calvinistas”]. “Ou: ‘Deus quer que você tenha um bom casamento, então aqui estão três maneiras de fazer isso’”. Em contraste, Hansen diz que aqueles que frequentam igrejas calvinistas querem que o pregador “fale sobre Jesus”.
Alguns não-calvinistas dizem que a ascensão do calvinismo foi alcançada, em parte, através de métodos sorrateiros. Roger E. Olson, um professor da Baylor University e autor de “Contra o Calvinismo” (Editora Reflexão), é o crítico mais franco do calvinismo.
“Uma das preocupações é que novos formandos de certos seminários batistas tenham se infiltrado em igrejas que não são calvinistas, e não contando às igrejas ou aos comitês de seleção, que não são calvinistas”, diz o professor Olson. De acordo com o que ele ouviu, jovens pregadores “esperam vários meses e depois começam encher a biblioteca da igreja com livros” de calvinistas como John Piper e Mark Driscoll. Eles criam turmas especiais com tópicos calvinistas, diz ele, e colocam na liderança da igreja aqueles que são calvinistas como eles.
“Frequentemente a igreja acaba se dividindo, com os não-calvinistas começando sua própria igreja”, diz o professor Olson.
Em sua reunião anual em junho, a Southern Baptist Convention recebeu um relatório de seu Comitê Consultivo de Calvinismo, que abordou acusações tanto de preconceito anticalvinista dentro da denominação quanto de má fé de calvinistas.
“Devemos esperar que todos os candidatos para posições ministeriais na igreja local sejam completamente sinceros dispostos quanto às questões da fé e da doutrina”, diz o relatório.
Embora muitos neocalvinistas mantenham-se longe da política, eles geralmente tomam posições conservadoras quanto às Escrituras e a questões sociais. Muitos não creem que as mulheres devam ser pastoras ou presbíteras. Mas Serene Jones, presidente do Union Theological Seminary, diz que a influência de Calvino não era limitada aos conservadores.
Cristãos liberais, incluindo alguns congregacionalistas e presbiterianos liberais, podem também assumir outros aspectos dos ensinos de Calvino, diz a Dra. Jones. Ela mencionou a crença de Calvino de que o “engajamento cívico é a principal forma de obediência a Deus”. Ela adiciona que, diferentemente de muitos conservadores de hoje, “Calvino não lia a Escritura literalmente”. Frequentemente Calvino “está citando-a incorretamente, e ele inventa passagens da Escritura que não existem”.
Brad Vermurlen, um aluno bacharel da Universidade Notre Dame escrevendo uma dissertação sobre os novos calvinistas, diz que a ascensão do calvinismo foi real, mas que a comoção deve diminuir.
“Dez anos atrás, todos falavam da ‘igreja emergente’”, diz Vermurlen. “E cinco anos atrás, as pessoas estavam falando da ‘igreja missional’. E agora do ‘novo calvinismo’. Eu não quero dizer que o novo calvinismo seja uma mania, mas me pergunto se é uma daquelas coisas que os evangélicos americanos querem falar a respeito por cinco anos, e depois continuar vivendo suas vidas e plantando suas igrejas. Ou é algo que veremos daqui a 10 ou 20 anos?”
E no Brasil? Qual sua opinião sobre o que tem acontecido no Brasil com relação ao calvinismo?
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