Análise Conceitual Eclesiológica – O Que é A Igreja?
Para alguns líderes cristãos hodiernos igrejas são apenas meras empresas, balcões de faturamento, locais de captação de dinheiro. Apenas isso. Mas a visão bíblico-teológica é outra.
J. Scott Horrel explica que o termo igreja é proveniente do grego, ecclesia, literalmente, os chamados para fora. Tanto no uso clássico como na Septuaginta significa “reunião”, “assembléia oficial”, “congregação”, ou “grupo de soldados exilados, religiosos ou anjos”. Das 115 ocorrências da palavra referida nas páginas do Novo Testamento pelo menos 111 referem-se à Igreja cristã, sendo usada 23 vezes em Atos, 62 vezes nas cartas do Apóstolo Paulo, 20 vezes no Apocalipse, etc. Horrel ainda aponta pelo menos quatro usos de ecclesia relacionados à Igreja cristã nos escritos neotestamentários:
·         Reunião. De vez em quando, descreve um culto ou conjunto de cristãos: (1 Co 11:18; 14:4, 19, 28, 34). A ênsase não recai sobre um lugar ou prédio, mas a um agrupamento de pessoas com o propósito de cultuar e ter comunhão, juntos; nesse sentido, quando a reunião termina a ecclesia não existe mais.

·         Igreja local. Contrasta com a idéia anterior; o foco está no povo e não na reunião; o uso mais numeroso desta palavra é para uma congregação ou comunidade de cristãos (At 8:1; 11:22, 26), etc.

·         Cristãos de uma região. Diz Horrel que ecclesia ocasionalmente envolve a totalidade de cristãos numa área geográfica – e. g. “a igreja da Ásia” (At 1 Co16:19). Embora tal definição esteja próxima da seguinte, seu uso abrange todas as igrejas locais de uma região; nessa acepção o termo igreja não pensa em distinções doutrinárias ou organizacionais, mas em proximidade geográfica.

·         O Corpo de Cristo. Aqui está o significado mais profundo, a expreção mais marcante e extraordinária de ecclesia: a Igreja universal, a Igreja católica, o Corpo de Cristo, o organismo espiritual composto de todos os regenerados através da fé em Jesus Cristo.

Jaziel G. Martins justifica que a palavra Igreja vem de ekklesia, originária do verbo kalein, que significa chamar. Entre os gregos ela se referia a uma assembléia do povo convocada regularmente para algum lugar público, com o objetivo de deliberar sobre algum assunto, sem sentido religioso. Já no Antigo Testamento o termo usado no hebraico para as assembléias dos hebreus é kahal (Dt 23: 1-3; Ne 13:1; Lm 1:10), e possui ênfase religiosa, pois Deus mesmo fazia a convocação. A Septuaginta, não raro, traduziu a palavra kahal por ekklesia, mostrando que o povo de Deus sempre se apresentava solenemente diante do Senhor.
Martins também diferencia a Igreja universal da Igreja local; a primeira (que também as vezes é chamada de “católica”) “é o conjunto de todo o povo de Deus em todos os séculos, total dos eleitos, incluindo os do Antigo Testamento” ou “todo o povo de Deus no mundo em determinada época na história”; já a segunda “é uma comunidade de pessoas que pela fé e obediência estão unidas a Cristo, e, organizadas, provem o Seu Reino”.
Algumas características interessantes de ekklesia: era a assembleia local, autônoma e soberana em relação às cidades, democrática, com marcas peculiares ao alvo da convocação, etc.
O Dr. Michael L. Dusing, diz que ekklesia originalmente denotava “um grupo de cidadãos chamados e reunidos, visando um propósito específico”; era conhecida desde o século V a. C., haja vista que aparece algumas vezes nos escritos de Heródoto e Platão. Mas exorta que não importa se os termos usados são os hebraicos comuns qahal/‘edah ou os gregos sunagõgê/ekklêsia, o significado essencial é o mesmo: a Igreja consiste naqueles que de Deus, os quais, mediante a obra de Cristo na sua redenção, foram reunidos como uma comunidade de fé que compartilha das bênçãos e responsabilidades de servir ao Senhor.


Está claro que a Igreja não é uma organização mercantilista, nem mero balcão de faturamento; ela é um organismo vivo do qual Jesus Cristo é o cabeça! Qualquer análise bíblico-teológica séria caminhará nesta direção. Por mais que se estude é impossível negar que a Igreja fundada por Jesus Cristo traz certas marcas indeléveis.
Por: José Roberto de Oliveira Chagas
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