Não poderíamos tratar o assunto relacionado à salvação sem nos referirmos a grande Reforma Protestante, onde encontraremos homens como Martinho Lutero, João Calvino e muitos outros, homens responsáveis pelo início da Reforma no século XVI. Diversos fatores levaram ao movimento da Reforma Protestante, isso é importante ressaltar por que a maioria dos cristãos lembra-se apenas da questão religiosa, mas temos outros como fatores socioeconômicos, fatores políticos, porém os mais importantes foram os fatores religiosos, entre eles podemos citar:
· Corrupção do clero religioso: para ganhar dinheiro, o alto clero de Roma iludia a boa fé das pessoas através do comércio de relíquias sagradas. Milhares de pessoas eram enganadas comprando espinhos que coroaram a fronte de Cristo, panos embebidos no sangue do rosto do Salvador, objetos pessoais dos apóstolos, pedaços da cruz onde cristo teria sido crucificado, etc. Certo pensador católico humanista[1] ironizou, dizendo que, se juntassem todos esses pedacinhos da cruz que a Igreja Católica vendia, daria para construir um navio! As pessoas pagavam para chegar perto da tíbia (osso da pata) do jumento que carregou Jesus. Havia cinco tíbias em exposição espalhadas pela Europa. Será que o tal jumento tinha cinco patas? Talvez você me diga que tudo é possível, no entanto prefiro acreditar numa igreja fraudulenta.
Além desse comércio fraudulento, a Igreja Católica passou a vender, também, indulgências, isto é, o perdão dos pecados. Mediante um bom pagamento os fiéis poderiam “comprar a salvação e a entrada no céu”.
· Ignorância do clero: a maior parte dos sacerdotes desconhecia a própria doutrina católica e demonstrava absoluta falta de preparo para as funções religiosas, existiam até padres que mal sabiam rezar uma missa[2]! A ignorância e o mau comportamento do clero representavam sério problema, pois a igreja dizia que os sacerdotes eram os intermediários entre os homens e Deus. Ora, se esses intermediários se mostravam ignorantes e incompetentes, era preciso buscar novos caminhos para o encontro com Deus.
· Aumento dos estudos religiosos: com a utilização da imprensa, aumentou o número de exemplares da Bíblia que podiam chegar às mãos dos estudiosos e da população. A divulgação dos textos sagrados e de outras obras religiosas contribuiu para o surgimento de diferentes interpretações da doutrina cristã. Apareceu, por exemplo, uma corrente religiosa que, buscando apoio na obra de Santo Agostinho, afirmava que a salvação do homem era alcançada pela fé. Essas ideias contrariavam a posição da igreja, baseada em Santo Tomás de Aquino, que dizia o seguinte: são a fé e as boas obras que conduzem à salvação.
Diante de tanta corrupção alguns homens se levantam para defender a causa do Evangelho. E um dos mais notórios pela nossa sociedade contemporânea, seria o monge agostiniano alemão, Martinho Lutero (1483 – 1546), nasceu em Eisleben, na Alemanha. Era filho de um empreiteiro de minas que atingiu certa prosperidade econômica. Influenciado pelo pai, entrou em 1501 na Universidade de Erfurt para estudar direito, mas seu temperamento iclinava-o para a vida religiosa. Em 1505, após quase ter morrido em uma tempestade ingressou na Ordem dos Agostinianos. Estudioso metódico e aplicado Lutero conquistou prestígio intelectual. Em 1508 já era professor da Universidade de Wittenberg. Em 1510 viajou a Roma, sede da Igreja Católica. Regressou profundamente decepcionado com o ambiente de corrupção e avareza em que vivia o alto clero. Nos anos de 1511 a 1513, aprofundou-se nos estudos teológicos até que começaram a amadurecer em seu espírito novas idéias teológicas. E em 1517, elaborou as famosas 95 Teses que foram afixadas na porta da igreja do castelo de Wittenberg, no dia 31 de outubro. Na sua introdução Lutero escreveu:
“Amore et studio elucidante veritatis hec subscripta disputabuntur Wittenberg Presidente R. P. Martino Lutther, Artium et S. Theologie Magistro eiusdemque ibedem lectore Ordinario. Quare petit, ut qui non possunt verbis presentes nobiscum disceptare agant id literis absentis.
In nomine domini nostri Hiesu Christi. Amen”.
Martinho Lutero |
“Com um desejo ardente de trazer a verdade à luz as seguintes teses serão defendidas em Wittenberg sob a presidência do Rev. Frei Martinho Lutero, Mestre de Artes, Mestre de Sagradas Letras, Mestre de Sagrada Teologia e professor da mesma. Ele, portanto, pede que todos os que não puderem estar presentes e disputar com ele verbalmente, façam-no por escrito.
Em nome de nosso Senhor Jesus Cristo. “Amém”.
(Trecho traduzido por Alexander Martins Vianna).
Devemos lembrar que, inicialmente, Lutero não pretendia criar uma nova igreja. Queria reformar o catolicismo. Porém criticava os bispos sem parar e se recusava a ficar calado ou se retratar. Lembre-se também que ele não tinha sido o primeiro a juntar pessoas contra os abusos do clero. Antes dele, homens como Wat Tyler (na Inglaterra, 1381) e John Hus (no final do século XV, na Boêmia, hoje República Tcheca, que fazia parte do Sacro Império) lideraram movimentos populares contra as autoridades eclesiásticas e os privilégios dos nobres. Queriam o fim dos impostos feudais sobre os camponeses. Hus chamava o papa de Anticristo. Os dois movimentos foram derrotados pelos exércitos dos nobres e condenados a morte. Além deles, outro grande reformador também merece todo o reconhecimento por seus incríveis feitos, John Knox (1512 – 1572), na Escócia, que foi influenciado por João Calvino, outro grande mestre que estudaremos nos capítulos a seguir.
Por que então Lutero não teve o mesmo destino de outros rebeldes? Por que não preso e queimado na fogueira destinada aos hereges? Teria decido do Céu um exército de anjos para protegê-lo? Do Céu talvez não, mas da terra, com certeza (afirma o historiador Mario Furley Schmidt). Poderosos príncipes feudais da Alemanha abraçaram a causa luterana. O reformador ficou num castelo confortável, protegido por muralhas e soldados. Podia conversar com seus seguidores e escrever seus panfletos. Além disso, a igreja luterana aceitava se submeter à autoridade do Estado e não se considerava dona de todas as verdades.
Em suas teses, condenou à autoridade papal que não estivesse fundamentada na Bíblia, a venda de indulgências, o culto às imagens, a invocação dos santos, a existência do purgatório, a reza pelos mortos e revogou o celibato. Acabou excomungado (expulso da igreja) pelo papa Leão X. A partir daí, um número crescente de pessoas começou a apoiá-lo na criação de uma nova igreja cristã.
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Maique de Souza Borges, é teólogo, estudante e amante da música sacra. Membro da Igreja Assembleia de Deus em Brasília, casado e pai de um filho. Tem interesse especial pela História da Igreja. É o criador do site Cooperadores do Evangelho. Profissionalmente atua no ramo farmacêutico e brinca de músico e programador nas horas vagas.
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