Sermão
de CHARLES SPURGEON, SERMÃO PREGADO NA MANHÃ DE DOMINGO, 22 DE ABRIL, 1855, EM
EXETER HALL, STRAND, LONDRES.
“Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus.”
Romanos 8:7
“Já que a mente posta na carne é inimiga de Deus.”
(A Bíblia das Américas)
Esta é uma denúncia muito solene que o apóstolo
Paulo formula contra a mente carnal. Ele a declara
como inimiga de Deus. Quando relembramos
o que o homem foi uma vez,
considerado apenas um pouco menor do
que os anjos; aquele companheiro que passeava com Deus no jardim do
Éden durante o dia. Quando pensamos que o homem foi criado à imagem de seu
Criador, puro, sem mancha e imaculado, não podemos nos sentir nada menos do que
amargamente afligidos ao descobrir uma acusação como esta, proferida
contra nós como raça. Devemos pendurar nossas harpas
sobre os salgueiros ao ouvir a voz
de Deus, quando fala solenemente à Sua criatura rebelde.
“Como caíste desde o céu, ó estrela da manhã, filha da alva! Tu
eras o selo da medida, cheio de
sabedoria e perfeito em formosura.Estiveste no Éden, jardim
de Deus; de toda a pedra preciosa era a tua cobertura,... em ti se faziam os
teus tambores e os teus pífaros; no dia em que foste criado foram preparados.Tu
eras o querubim, ungido para cobrir, e te estabeleci; no monte santo
de Deus estavas, no meio das pedras afogueadas andavas. Perfeito
eras nos teus caminhos, desde o dia
em que foste criado, até que se achou iniqüidade em ti. Na
multiplicação do teu comércio encheram o teu interior
de violência, e pecaste; por isso te
lancei, profanado, do monte de Deus, e te fiz perecer, ó querubim cobridor, do
meio das pedras afogueadas.”
Sentimos-nos extremamente
tristes quando contemplamos as ruínas de
nossa raça. Como o cartaginense que ao
pisar o lugar desolado de sua mui
amada cidade, derramou lágrimas abundantes quando a viu convertida em escombros
pelos exércitos romanos; ou como o judeu que perambulava pelas ruas desertas de
Jerusalém, enquanto lamentava que a grade do arado tivesse desfigurado a beleza
e a glória dessa cidade que era
a alegria de toda a terra; assim
deveria doer em nós, por nossa raça, quando contemplamos as ruínas dessa excelente
estrutura que Deus formou, essa criatura
sem rival em simetria, com um intelecto
superado somente pelo intelecto dos anjos,
esse poderoso ser, o homem, quando
contemplamos como caiu, e caiu, e
caiu de sua elevada condição, convertido em uma massa de
destruição. Há alguns anos atrás, podíamos observar uma estrela que
resplandecia com um brilho inusitado, mas subitamente desapareceu; chegaram a
fazer conjeturas de que se tratava de um
mundo que ardia a bilhões de
quilômetros de nós, mas ainda assim, os
raios dessa conflagração chegaram até nós;
o silencioso mensageiro de luz deu o
alarme aos remotos habitantes deste globo:
“um mundo arde!” Mas, que importância tem a conflagração de um planeta
distante; o que é a destruição do
elemento material do mundo mais gigantesco, comparada
com esta queda da humanidade, com este naufrágio de tudo o que é santo e
sagrado em nós? Para nós, na verdade, as coisas dificilmente se podem comparar,
pois estamos profundamente interessados em uma destruição, mas não na outra. A
queda de Adão é NOSSA queda; caímos nele
e com ele; sofremos da mesma maneira; lamentamos
a ruína de nossa própria casa,
deploramos a destruição de nossa própria
cidade, quando nos detemos para captar
estas palavras escritas de forma tão clara que não podem ser
mal interpretadas: “A inclinação da carne” (esses mesmos
desígnios que uma vez foram santos, e
que passaram a ser carnais), “são inimizade
contra Deus.” Que Deus me ajude nesta
manhã a formular solenemente esta denúncia
contra todos vocês! Oh, que o Espírito Santo
nos convença de tal modo do pecado, que unanimemente nos declaremos “culpados”
diante de Deus! Não há nenhuma
dificuldade na interpretação do meu texto:
mal necessita uma explicação. Todos nós
sabemos que a palavra “carnal” aqui significa a natureza
pecaminosa. Os antigos tradutores colocavam a passagem assim: “a mente posta na
carne é inimiga de Deus”, ou seja, a mente não regenerada,
essa alma que herdamos de nossos
pais, essa natureza pecaminosa que nasceu
em nós quando nossos corpos foram
formados por Deus. A mente não regenerada, phronema sarkos, os
desejos, as paixões da alma; isto é o que se separou de Deus
e se converteu em Seu inimigo.Mas antes que entremos
em uma discussão da doutrina do
texto, observem a forma vigorosa como o
apóstolo se expressa: “A inclinação da
carne,” diz, “é INIMIZADE contra Deus.” Ele usa um substantivo, e
não um adjetivo. Não diz que simplesmente se opõe
a Deus, mas sim que se trata de
uma inimizade positiva. Não é o adjetivo negro, e sim o substantivo
negrura; não é inimizado e sim a inimizade mesma;
não é corrupto, mas sim a corrupção;
não é rebelde, mas sim a rebelião;
não é perverso, mas sim a perversão
mesma. O coração ainda que seja enganoso,
é engano positivo; é o mal concreto,
pecado na sua essência; é a destilação,
a quintessência de todas as coisas
que são vis; não é invejoso de Deus, é a própria
inveja; não está inimizado, é a inimizade real. Não precisamos dizer uma
palavra para explicar que é “inimizade contra Deus.” Não acusa a natureza
humana de ter simplesmente uma aversão ao domínio, às leis,
ou às doutrinas de Deus; mas sim
que atesta um golpe mais profundo e mais
preciso. Não golpeia o homem na cabeça,
mas penetra em seu coração; coloca o machado na raiz da
árvore, e declara “inimizade contra Deus,” contra a pessoa da
Deidade, contra o Ser Supremo, contra
o poderoso Criador deste mundo; não
inimizado contra Sua Bíblia ou contra
Seu Evangelho, ainda que isso seja verdade,
mas sim contra Deus mesmo, contra Sua
essência, Sua existência, e Sua pessoa.
Sopesemos então as palavras do texto,
pois são palavras solenes. Estão muito bem expressadas por esse maestro
da eloquência, Paulo e, além disso, foram
ditadas pelo Espírito Santo, que ensina
ao homem como se expressar corretamente.
Que nos ajude a interpretar esta passagem, que
nos deu previamente para Sua explicação. O texto nos pede que tomemos nota,
primeiro, da veracidade desta afirmação; em segundo lugar, da universalidade do
mal que nos aflige; em terceiro lugar, vamos descer ainda
mais às profundezas do tema com a
intenção de que o gravem em seu coração, ao demonstrar a
enormidade do mal; e depois disso, se o tempo alcança, vamos extrair uma
doutrina ou duas do fato geral.
I. Primeiro, nos convida a falar sobre a
veracidade desta grande declaração: “a inclinação da carne
é inimizade contra Deus.” Não requer
provas, pois como está escrito na palavra
de Deus, nós, como cristãos, estamos
obrigados a inclinar-nos diante dela. As
palavras da Escritura são palavras de
sabedoria infinita, e se a razão é
incapaz de ver o fundamento de uma
declaração desta revelação, está obrigada a
crer nela mui reverentemente, pois estamos convencidos
que ainda que esteja acima de nossa razão, não pode ser contrária a ela. Aqui
encontro que está escrito na Bíblia: “A
inclinação da carne é inimizade contra Deus”; e isso,
em si, me basta. Mas se fossem necessárias testemunhas, convocaria às nações da
antiguidade; desenrolaria o volume de história antiga; comentaria-lhes
os fatos terríveis da humanidade. Quem
sabe comoveria suas almas até o aborrecimento, se lhes falasse da
crueldade desta raça para consigo mesma, se lhes mostrasse como converteu a
este mundo em Aceldama por suas guerras, e o inundou
com sangue por suas lutas e assassinatos;
se lhes enumerasse a negra lista de
vícios em que caíram nações inteiras,
ou lhes apresentasse as características de alguns dos mais eminentes
filósofos, sentiria vergonha de falar deles e vocês se negariam a escutar. Sim,
seria impossível que vocês, como refinados habitantes de um país civilizado,
suportassem a menção dos crimes que foram cometidos por esses mesmos homens que
hoje em dia são alçados como modelos de perfeição. Tenho medo de que se
escrevêssemos toda a verdade, abandonaríamos a leitura das vidas dos mais
poderosos heróis e dos sábios mais orgulhosos da
terra, e diríamos de imediato de
todos eles:
“Desviaram-se todos,
e juntamente se fizeram imundos; não
há quem faça o bem, não, nem sequer um.”
E se isso não fora suficiente, quero fazê-los
ver os erros dos pagãos; quero falarlhes das superstições
de seus sacerdotes que submeteram as
almas à superstição; quero que sejam testemunhas das horríveis
obscenidades, dos ritos diabólicos que constituem as
coisas mais sagradas para estes ofuscados indivíduos.
Então, depois de terem ouvido o que constitui a religião natu ral do homem, eu
pediria a vocês que me explicassem o que seria sua irreligião. Se esta é
sua devoção, qual seria sua impiedade?
Se este é seu ardente amor pela Deidade,
qual seria seu ódio à mesma? Estou
certo que vocês de imediato confessariam, se soubessem
o que é na natureza humana, que a denúncia está sustentada e
que o mundo deve exclamar sem
reservas, sinceramente: “culpado”.Posso encontrar um
argumento adicional no fato de que as
melhores pessoas têm sido sempre as mais dispostas a confessar sua
depravação. Os homens mais santos, os que estão
mais livres de impurezas, sempre sentiram
com mais intensidade a sua depravação. O
que tem suas vestes mais brancas, perceberá
melhor as manchas que caiam nelas. O
que possui a coroa mais reluzente, saberá
quando perdeu uma pedra preciosa. O
que dá mais luz ao mundo, sempre será capaz de
descobrir sua própria escuridão. Os anjos do céu cobrem seus
rostos; e os anjos de Deus na
terra, Seu povo escolhido, sempre devem cobrir
seus rostos com a humildade, quando se lembram do que foram. Escutem a Davi:
ele não era desses que se vangloriam de uma natureza santa e de uma
disposição pura. Ele diz: “Eis que em
iniquidade fui formado, e em pecado me concebeu minha
mãe.” Muitos desses santos homens escreveram
aqui, neste volume inspirado, e encontraremos a todos
confessando que não eram limpos, não, nem um sequer; e um deles exclamou:
“Miserável homem que eu sou! Quem me livrará do corpo dessa morte?” Além disso,
chamarei a outra testemunha para que testifique a veracidade deste fato,
e que decidirá a questão: será sua
própria consciência. Consciência, te colocarei no
banco das testemunhas para interrogar-te
esta manhã! Consciência, diga a verdade!
Não te drogues com o ópio da
segurança em ti mesma! Testifica a verdade! Nunca ouviste dizer ao
coração: “queria que Deus não existisse”? Por acaso todos os homens não
desejaram, algumas vezes, que nossa religião não fosse verdadeira? Ainda
que não puderam livrar suas almas inteiramente da ideia
da Deidade, por acaso não desejaram
que não existisse Deus? Não acariciaram o
desejo de que todas estas realidades
divinas fossem um engano, uma farsa e uma impostura? “Sim,” responde cada
indivíduo, “isso me ocorreu algumas vezes; desejei poder entregar-me à
insensatez. Desejei que não houvessem leis que me
restringissem; desejei, como o insensato,
que não houvesse Deus.” Essa passagem dos Salmos
que diz: “DISSE o néscio no seu
coração: não há Deus,” está mal traduzida. A tradução correta
deveria ser: “Diz o néscio no seu coração: não aceito a Deus. O néscio não diz
em seu coração não há Deus, pois ele sabe que há um Deus; Ao contrário, afirma:
“Não aceito a Deus, não preciso de nenhum Deus, queria que não existisse
nenhum” E, quem de nós não foi tão insensato que não chegou a desejar que
não houvesse Deus? Agora, consciência, responde outra pergunta! Tu confessaste
que algumas vezes desejaste que não existisse Deus; então, suponhamos que um
homem desejasse a morte de outro. Acaso isso não demonstraria o seu ódio? Sim,
demonstraria. E assim, meus amigos, o desejo
de que Deus não exista, demonstra que
temos aversão a Deus. Quando desejo a
morte de outro e que apodreça no
túmulo; quando desejo que seja um non
est (um ser inexistente), devo odiar
a esse homem; de outra forma não desejaria que fosse um ser extinto.
Assim que esse desejo (e não creio que haja
existido alguém no mundo que não o
houvesse sentido), demonstra que “a inclinação da carne é inimizade contra
Deus.” Mas, consciência, tenho outra pergunta! Acaso não desejaste alguma vez
em teu coração, posto que há um Deus, que Ele fosse um pouco menos santo, um
pouco menos puro, de tal maneira que
essas coisas que agora são graves crimes, pudessem
ser consideradas ofensas veniais, simples
pecadinhos? Acaso não disseste nunca em teu
coração: “Queria que estes pecados não fossem
proibidos”. Queria que Ele fosse
misericordioso para que os esquecesse sem requerer
nenhuma expiação! Queria que não fosse tão severo, tão rigorosamente justo, tão
severamente estrito na Sua integridade.” Coração meu, nunca disseste isso?
A consciência deve responder: “Eu disse.”
Bem, esse desejo de mudar a Deus, demonstra que
não amas a Deus que é o Deus do céu e da terra; e ainda que fales
de religião natural, e te glories de
reverenciar ao Deus dos verdes campos, dos
prados férteis, das águas abundantes, do
retumbar do trovão, do céu azul, da noite estrelada, e do
grandioso universo: ainda que tu ames o belo ideal poético da
Deidade, não se trata do Deus da
Escritura, pois tu desejaste mudar Sua natureza, e
nisso demonstraste que estás inimizado com Ele. Mas, consciência,
por que devo ficar fazendo rodeios? Tu podes ser uma testemunha fiel, se queres
dizer a verdade, que cada pessoa aqui presente transgrediu de tal maneira
contra Deus, quebrou tão continuamente Suas
leis, violou Seu dia de repouso, espezinhou
Seus estatutos, depreciou Seu Evangelho,
que é muito certo, ai, sumamente certo que “a inclinação da carne é
inimizade contra Deus.”
II. Agora, em segundo lugar, tomemos nota da
universalidade deste mal. Quão vasta é esta afirmação. Não é uma mente carnal
singular, ou uma certa classe de características, senão “os desígnios da
carne.” É uma afirmação sem restrições, que inclui a
cada indivíduo. Qualquer mente que possa
apropriadamente ser chamada carnal, se não foi espiritualizada pelo poder
do Espírito Santo de Deus, é “inimizade contra Deus.” Observem
então, em primeiro lugar, a universalidade
disto relativa a todas as pessoas. Toda mente carnal no
mundo está inimizada com Deus. Isto não exclui nem sequer os bebês que se
alimentam do peito da mãe. Nós os chamamos de inocentes, e na realidade são
inocentes de transgressões reais, mas como diz o poeta: “no
peito mais terno jaz uma pedra”. Na
mente carnal de um bebê há inimizade contra Deus;
não está desenvolvida, mas está ali. Alguns afirmam que as crianças
aprendem a pecar por imitação. Mas
não: Peguem uma criança, coloquem-na sob as
influências mais piedosas, se assegurem que
o próprio ar que respira seja purificado pela piedade, que
saboreie santidade, que somente escute a voz da
oração e do louvor; que seus ouvidos
se mantenham afinados pelas notas do hino sagrado; e apesar de tudo
isso, essa criança pode ainda se converter em um dos mais depravados
transgressores; e ainda que na aparência esteja pronta em direção ao caminho do
céu, descerá diretamente ao abismo se não é guiada pela graça divina. Oh, quão
certo é que alguns que tiveram os melhores pais, tenham se convertido nos
piores filhos; que muitos que foram treinados sob a égide sagrada, em meio às
mais favoráveis cenas de piedade, se converteram, contudo, em libertinos e dissolutos!
Assim que não é por imitação, mas sim, pela natureza que a criança é má.
Concordemos que a criança é carnal, pois meu texto diz: “a inclinação da carne
é inimizade contra Deus”. Escutei que um crocodilo
recém-nascido, quando sai de sua casca,
no mesmo instante se coloca em posição
de ataque, abrindo sua mandíbula como se houvesse
sido ensinado ou treinado. Sabemos que
os jovens leões quando são domados e domesticados, conservam
a natureza selvagem de seus semelhantes da selva, e se
os colocassem em liberdade, caçariam tão
ferozmente como os outros. O mesmo acontece
com a criança; podes amarrá-la com os
verdes juncos da educação, podes fazer o que quiseres com ele, mas
como não podes mudar seu coração, estes desígnios da
carne estarão inimizados com Deus; e
apesar do intelecto, do talento, e de tudo o que possam dar-lhe que seja
proveitoso, será da mesma natureza pecaminosa como
qualquer outra criança, ainda que na aparência
sua natureza não seja tão má; pois “a inclinação da carne é inimizade contra
Deus.” E se isto se aplica às crianças, igualmente inclui toda a classe de homens.
Há alguns homens que nasceram neste mundo dotados de espíritos superiores, que
caminham por todos os lados como gigantes envoltos em mantos de luz e glória.
Refiro-me aos poetas, homens que se
destacam como colossos, mais poderosos que nós, que aparentam
haver descido das esferas celestiais. Outros há, de intelecto
afiado, que investigando os mistérios da
ciência, descobrem coisas que estiveram ocultas
desde a criação do mundo; homens de
tenaz investigação e de vasta erudição; e,
contudo, de cada um destes (poetas, filósofos,
metafísicos e grandes descobridores), se dirá: “a inclinação da carne é inimizade
contra Deus.” Poderá treiná-lo, converter seu intelecto em algo quase
angelical, fortalecer sua alma até que entenda o que constitui enigmas para
nós, e os decifre com seus dedos num instante; poderás
fazê-lo tão poderoso que possa entender os segredos
ferrenhos dos montes eternos e pulverizá-los com seu punho; poderás dar-lhe um
olho tão perspicaz que possa penetrar os mistérios das rochas e das montanhas;
poderás agregar-lhe uma alma tão poderosa que
possa matar a gigantesca Esfinge, que por
muito tempo confundiu os sábios mais
notáveis; mas mesmo que tenhas feito tudo isto, sua mente será depravada e seu
coração carnal ainda estará em oposição a Deus. E, ainda mais, podes levá-lo à
casa de oração; podes expô-lo constantemente à pregação mais clara do mundo,
onde escutará as doutrinas da graça em toda a sua pureza, e pregação
acompanhada de santa unção; mas se essa santa unção não descansa
nele, tudo haverá sido em vão: pode
ser que assista com toda regularidade, mas, igual à
piedosa porta da capela, que gira para dentro e para fora, ele
seguirá sendo igual; poderá ter uma
religião superficial externa, mas sua mente carnal estará
inimizada com Deus. Agora, esta não é uma afirmação minha, é a
declaração da palavra de Deus, e podem colocá-la de
lado se não acreditam nela; mas não
discutam comigo, já que é a mensagem do meu Senhor; e é válida para
cada um de vocês: homens, mulheres e crianças, e
para mim também, que se não somos
regenerados e convertidos, se não experimentamos
uma mudança de coração, nossa mente carnal está
inimizada contra Deus. Além disso, tomem nota da
universalidade disto em todo momento. A
mente carnal está em todo momento inimizada com Deus. “Oh,” alguém dirá, “pode
ser verdade que às vezes nos opomos a
Deus, mas certamente nem sempre nos opomos.” “Há
momentos,” dirá alguém, “quando sinto que me rebelo, algumas vezes minhas
paixões me conduzem a desviar-me; mas
certamente há outras ocasiões favoráveis quando
realmente sou amigável com Deus, e
lhe ofereço verdadeira devoção. Às vezes
estive (continua o impugnador), no cume da montanha,
até que toda minha alma se acendeu
com a cena contemplada abaixo, e meus lábios pronunciaram o
hino de louvor— “Estas são Tuas gloriosas obras, Pai de bondade,Todo poderoso,
Tua é esta estrutura universal,Tão bela e maravilhosa: quão maravilhoso és Tu!”Sim,
mas preste atenção, o que é verdade
hoje, não é falso amanhã; “a inclinação da carne
é inimizade contra Deus” todo o tempo. O lobo poderá estar adormecido, mas
continua sendo lobo. A serpente, com seus tons camaleônicos, pode dormitar no
meio das flores, e a criança pode acariciar seu dorso liso, mas continua
sendo uma serpente; não muda sua
natureza ainda que esteja adormecida. O mar é o albergue das
tormentas, ainda que esteja plácido como um lago; o trovão continua sendo o
trovão que retumba poderosamente, ainda que se encontre tão longe que não
possamos escutá-lo. E o coração, ainda que não percebamos suas ebulições, ainda
que não vomite sua lava, e não jogue as ferventes rochas de sua corrupção,
continua sendo o mesmo temível vulcão. Em todo momento, a
todas horas, a cada instante (digo
isto segundo o que Deus diz), se vocês são carnais,
cada um de vocês é inimizado contra Deus.Temos outro
pensamento relativo à universalidade deste enunciado.
Todos os desígnios da carne são inimizade
contra Deus. O texto diz: “A
inclinação da carne é inimizade contra
Deus”; isto é, todo o homem, cada
parte dele: cada poder, cada paixão. Seguidamente se
perguntam: “Que parte do homem foi
afetada pela queda?” pensam que a queda somente foi sentida pelos
sentimentos, mas que o intelecto permaneceu incólume; eles
argumentam isto sustentados na sabedoria do homem,
e os impressionantes descobrimentos que foram feitos, tais como a lei da
gravidade, a máquina a vapor e as ciências. Agora, eu considero estas coisas como
uma exposição insignificante de sabedoria, quando as comparamos com o que se
descobrirá dentro de cem anos, e diminutas quando comparadas com que o que se
poderia descobrir caso o intelecto humano houvesse permanecido em sua condição
original. Eu creio que a queda esmagou o homem completamente. Ainda
que quando passou como uma avalanche
sobre o poderoso templo da natureza humana,
alguns elementos permaneceram intactos, e
em meio às ruínas se pode encontrar por aqui e por ali, uma flauta,
um pedestal, uma coroa, uma coluna, que não estão completamente quebrados, a
estrutura inteira caiu, e suas relíquias mais gloriosas são coisas caídas,
fundidas no pó. O homem completo está estropiado.
Olhem nossa memória; acaso não é verdade
que a memória participa da queda? Eu
posso recordar muito mais as coisas más que as coisas
que tem cheiro de piedade. Se eu escuto uma canção lasciva,
essa música do inferno ficará em meus
ouvidos até que eu fique grisalho. Mas
se escuto uma nota de santo louvor:
ai!, me esqueço! Por que a memória aperta com mão
de ferro as coisas más, mas sustém com dedos frágeis as coisas boas. A
memória permite que o cedro glorioso dos bosques do Líbano flutue sobre a
corrente do esquecimento, mas retém toda a imundície que chega flutuando da
depravada cidade de Sodoma. A memória recordará o
mal, mas esquecerá o bem. A memória
participa da queda. O mesmo ocorre com os afetos. Amamos as coisas
terrenas mais do que deveríamos amá-las; rapidamente
entregamos nosso coração a uma criatura, mas
raras vezes o oferecemos ao nosso Criador; E quando o coração é entregue a Jesus,
é propenso a se extraviar. Olhem a nossa imaginação também. Oh! Como se deleita
a imaginação quando o corpo se encontra em
uma condição perniciosa. Somente dêem ao
homem algo que o leve a ponto de intoxicar-se; droguem-no com ópio; e como
dançará sua imaginação cheia de alegria!
Como pássaro liberto de sua jaula,
como se renovará com asas mais vigorosas
que as asas da águia! Vê coisas
que nem sequer havia sonhado nas sombras da noite. Por que razão sua
imaginação não trabalhou quando seu corpo se
encontrava em um estado normal, quando era saudável?
Simplesmente porque a imaginação é depravada; e enquanto não se introduziu
um elemento imundo, enquanto o corpo não
havia começado a estremecer-se com um tipo de intoxicação, a
fantasia não pensava celebrar seu carnaval. Temos alguns esplêndidos exemplos
do que o homem pode escrever, quando influenciado pela
maldita aguardente. Pelo fato de que
a mente é tão depravada, ela se encanta com tudo aquilo
que põe o corpo em uma condição anormal; e aqui temos uma prova que a própria
imaginação se extraviou.O mesmo acontece com o
juízo: posso demonstrar quão imperfeitamente decide.
Também posso acusar a consciência, e dizer-lhe quão cega é ela, e como lhe
cintila o olho ante os maiores
desatinos. Posso examinar todos nossos poderes, e
escrever na frente de cada um deles: “Traidor ao céu! Traidor ao céu!” Toda “a
mente posta na carne é inimiga de Deus”. Agora, meus queridos leitores,
“somente a Bíblia é a religião dos protestantes”: mas sempre que reviso um
certo livro tido em grande estima por nossos irmãos anglicanos, o
encontro inteiramente ao meu lado, e
invariavelmente sinto um grande deleite ao
citá-lo. Vocês sabem que sou um dos
melhores clérigos da Igreja da Inglaterra,
o melhor, se me julgarem pelos
Artigos, e o pior se me julgarem por qualquer
outra norma?Meçam-me pelos Artigos da Igreja da Inglaterra, e não ocuparia o
segundo lugar ante ninguém abaixo do céu azul do firmamento, pregando o
evangelho contido neles; pois se há um excelente epítome do Evangelho, se
encontra nos Artigos da Igreja da Inglaterra.
Permitam-me mostrar-lhes que não estiveram
escutando uma doutrina estranha. Temos, por exemplo, o artigo nono, sobre o
pecado de nascimento, o pecado original: “O
pecado original não consiste em seguir a Adão
(como o afirmam em vão os pelagianos), mas é a falha e a corrupção da natureza
de cada indivíduo, que naturalmente é engendrada pela prole de Adão, pela qual
o homem está sumamente distanciado da justiça original, e é por sua própria
natureza propenso ao mal, de tal forma que o desejo da carne é contra o Espírito;
e, portanto, toda pessoa vinda a este mundo merece a ira de Deus e a condenação.E
esta infecção da natureza efetivamente
permanece, sim, nos que são regenerados; pelo qual a
concupiscência da carne, chamada no grego: phronema
sarkos, que alguns expõem como a sabedoria, a sensualidade, o afeto, o
desejo da carne, não está sujeita à Lei de Deus. E ainda que não haja
condenação para os que crêem e são batizados, contudo o apóstolo confessa que a
concupiscência e a lascívia têm em si
a natureza do pecado. Não necessito
mis nada. Acaso alguém que creia no Livro de Oração discordará da
doutrina que “a mente posta na carne é inimiga de Deus”?
III. Eu disse que
procuraria, em terceiro lugar, mostrar a grande
enormidade desta culpa. Temo, meus irmãos,
que seguidamente quando consideramos nosso
estado, não pensamos tanto na culpa
como pensamos na miséria. Algumas vezes tenho lido sermões
sobre a inclinação do pecador ao mal, o que tem sido
demonstrado com muito poder, e certamente
o orgulho da natureza humana tem sido muito humilhado e
abatido; mas me parece que há algo que deixamos fora, e
que terá como resultado uma grande
omissão, ou seja: a doutrina que o
homem é culpado em todas estas
coisas. Se seu coração está contra Deus, devemos
dizer que o pecado é seu; e se não pode arrepender-se, devemos
lhe mostrar que o pecado é a
única causa da sua incapacidade para fazê-lo,
(que toda sua separação de Deus é pecado), que o se manter afastado de Deus é
pecado.Temo que muitos dos que aqui estamos devemos reconhecer que não acusamos
nossas próprias consciências desse pecado.
Sim, dizemos, estamos cheios de corrupção. Oh, sim! Mas
ficamos muito tranquilos. Meus irmãos, não deveríamos
fazer isto. Termos essas corrupções é nosso
crime, que deve ser confessado como
um mal enorme; e se eu, como um ministro
do Evangelho, não enfatizasse o pecado envolvido
nele, não teria encontrado seu próprio
vírus. Teria deixado de fora a
verdadeira essência, se não mostrasse que é um crime. Agora, “a
inclinação da carne é inimiga de Deus”. Quão grave é esse pecado! Isto se
manifestará de duas formas. Considerem nosso relacionamento com Deus, e logo
lembrem o que Deus é; e depois que eu houver falado destas duas coisas, vocês
verão, espero, que é um pecado estar inimizados com Deus.Que é Deus para nós? É
o Criador dos céus e da terra; Ele sustenta os pilares do universo. Ele com Seu
hálito, perfuma as flores. Com Seu lápis colore. Ele é o autor desta
linda criação. “Somos ovelhas do seu pasto; Ele nos fez, e não nós a nós
mesmos”. A relação que tem conosco é de Construtor e Criador; e por esse fato
reclama ser nosso Rei. Ele é nosso Legislador, o autor da lei; e logo,
para que nosso crime seja pior e mais
grave, Ele governa a providência; pois
é Ele quem nos guarda dia a dia. Ele supre nossas necessidades; Ele
mantém o ar que nosso nariz respira. Ele ordena
ao sangue que mantenha seu curso por
todas nossas veias; Ele nos mantém com vida, e nos previne da morte; Ele está
diante de nós como nosso Criador, nosso
Rei, nosso Sustento, nosso Benfeitor; e eu pergunto:
por acaso não é um crime de
enorme magnitude, não é alta traição contra
o imperador do céu, não é um
pecado horrível, cuja profundidade não podemos medir
com a sonda de todo nosso juízo, que nós, Suas criaturas, que dependemos dEle,
estejamos inimizados com Ele? Mas nós podemos ver que o crime é mais grave
quando pensamos no que Deus é. Me permitam apelar
pessoalmente a vocês em um estilo de
interrogatório, pois isto tem muito peso. Pecador! Por que estás inimizado com
Deus? Deus é o Deus de amor. Ele é amável com Suas criaturas. Ele te olha com
Seu amor de benevolência, pois este mesmo dia Seu sol brilhou sobre ti, hoje
tiveste alimento e roupas, e chegaste a esta capela com saúde e vigor. Odeias a
Deus porque te ama? Essa é a razão? Considerem quantas misericórdias recebeste
de Suas mãos durante tua vida! Não nasceste
com um corpo disforme; tiveste uma
tolerável medida de saúde; te recuperaste
muitas vezes de doenças. Quando estavas no limiar
da morte, Seu braço deteve tua alma
do último passo de destruição. Odeias a
Deus por tudo isto? O odeias porque
salvou tua vida por Sua terna misericórdia?
Contempla toda Sua bondade que estendeu diante de ti! Poderia ter
te enviado ao inferno; mas estás
aqui. Agora, odeias a Deus porque te conservou?
Oh, por que razão estás inimizado com
Ele? Meu amigo, acaso não sabes que Deus
enviou a Seu Filho procedente de Seu peito, e O pendurou na cruz, e ali permitiu
que morresse pelos pecadores, o justo pelos injustos? E, odeias a Deus por
isso? Oh, pecador, acaso é esta a
causa de tua inimizade? Estás tão longe que
agradeces com inimizade o amor? E quando te rodeou de favores, quando te cingiu
com bênçãos, quando te cumulou de
misericórdias, acaso O odeias por isso? Ele
poderia dizer-te o mesmo que disse
Jesus aos judeus: “Tenho-vos mostrado muitas obras boas
procedentes de meu Pai; por qual destas obras me apedrejais?” Por quais
destas obras odeiam a Deus? Se algum benfeitor terreno houvesse te alimentado,
o odiarias? Se te houvesse vestido, o ultrajarias em sua face? Se
te houvesse dado talentos, tornarias contra
ele estes poderes? Oh, fala! Forjarias o ferro de uma
adaga e a cravarias no coração de teu melhor amigo? Odeias a
tua mãe que te criou em seus
joelhos? Acaso maldizes a teu pai que sabiamente
velou por ti? Não, respondes, sentimos uma pequena gratidão por nossos
parentes terrenos. Onde estão seus
corações, então? Onde estão seus corações, que ainda
podem depreciar a Deus, e estar inimizados com Ele? Oh, crime diabólico! Oh,
atrocidade satânica! Oh, iniquidade indescritível! Odiar a Quem é
todo amável, aborrecer ao que mostra
misericórdia constante, desdenhar do que bendiz eternamente,
escarnecer do bom, do cheio de graça; sobretudo, odiar a Deus que
enviou a Seu Filho para que morresse pelo homem! Ah!, este pensamento: “A mente
posta na carne é inimiga de Deus,” há algo que nos sacode; pois é um terrível
pecado estar inimizados com Deus. Quisera poder falar com
maior poder, mas somente meu Senhor
pode fazê-los ver o enorme mal deste horrível estado do
coração.
IV. Mas há uma ou duas doutrinas que
procuraremos deduzir de tudo isto. Está a mente posta na carne “inimizada com
Deus”? Então a salvação não pode ser por méritos; tem
que ser por graça. Se estamos
inimizados com Deus, que méritos poderíamos
ter? Como podemos merecer algo do Ser
que odiamos? Ainda que fôssemos puros como Adão, não poderíamos ter
nenhum mérito; pois não creio que Adão tivesse algum merecimento diante de seu
Criador. Quando tinha guardado toda a lei
de seu Senhor, não era senão um
servo inútil; não tinha feito mais do
que tinha que fazer; não tinha um
saldo a seu favor, não havia um excedente. Mas como nos
tornamos inimigos, quanto menos podemos esperar ser salvos por obras! Oh, não;
a Bíblia inteira nos diz, do principio ao fim, que a salvação não é pelas obras
da lei, e sim pelos atos da graça.Martinho Lutero declarava que ele pregava
constantemente a justificação pela fé unicamente, “porque”, dizia, as pessoas
tendem a se esquecer; de tal forma que me via obrigado
a quase golpear suas cabeças com
minha Bíblia, para que gravassem a mensagem
em seus corações.” E é verdade que
constantemente esquecemos que a salvação é
somente pela graça. Sempre estamos tentando introduzir
uma pequena partícula de nossa própria virtude; queremos cooperar com algo.
Recordo um velho ditado do velho Matthew Wilkes: “Salvos por suas obras!
É como se tentassem chegar a América
em um barquinho de papel!” Salvos por suas obras! Isso
é impossível! Oh, não; o pobre legalista é como um cavalo cego que dá voltas e
voltas no moinho; ou como o prisioneiro que sobe os degraus da
roda de moinho, e descobre que não
subiu nada depois de todo o esforço
que fez, não tem uma confiança
sólida, não tem uma base firme onde possa
apoiar-se. Não fez o suficiente: “nunca o suficiente”. A consciência sempre diz:
“isto não é a perfeição; deveria ter sido melhor”. A salvação para os inimigos deve
ser alcançada mediante um embaixador, por
uma expiação, sim, por Cristo. Outra doutrina que extraímos
disto é: a necessidade de uma mudança completa de nossa
natureza. É certo que desde que
nascemos estamos inimizados com Deus. Quão
necessário é, então, que nossa natureza
tenha uma mudança! Há poucas pessoas que
sinceramente crêem nisto. Eles pensam que
se clamam: “Senhor, tem misericórdia de
mim”, quando estão agonizando, irão ao céu diretamente.
Permitam-me supor um caso impossível por
um momento. Imaginemos um homem que está entrando no céu sem
uma mudança em seu coração. Ele se aproxima das portas. Escuta um soneto. Ele
se sobressalta! É um hino de louvor para o seu inimigo. Vê um trono, e nele
está assentado Um que é glorioso; mas é seu
inimigo. Caminha por ruas de ouro,
mas essas ruas pertencem a seu inimigo. Vê hostes de anjos, mas
essas hostes são os servos de seu inimigo. Ele se encontra na casa de um
inimigo; pois ele está inimizado com Deus. Não pode
unir-se aos cantos, pois desconhece a
melodia. Ficaria ali parado, silencioso, imóvel,
até que Cristo dissesse com uma voz
mais potente que dez mil trovões: “Que
fazes tu aqui? Inimigos no banquete
das bodas? Inimigos na casa dos filhos? Inimigos no céu? Vá embora!
Aparta-te, maldito, para o fogo eterno do inferno”!Oh!, senhores, se os não
regenerados pudessem entrar no céu. Trago uma vez mais à
memória, o tão repetido ditado de
Whitefield: seria tão infeliz no céu, que
pediria a Deus que me permitisse
precipitar-me ao inferno para buscar abrigo lá. Deve
haver uma mudança, se pensamos no estado futuro, pois, como poderiam os
inimigos de Deus sentar-se no banquete das bodas do Cordeiro?E para
concluir, me permitam recordar-lhes (e
depois de tudo está no texto), que esta mudança
deve ser feita por um poder superior ao de vocês. Um inimigo pode
possivelmente converter-se em amigo; mas não
a inimizade. Se ser um inimigo fosse uma adição à sua
natureza, ele poderia tornar -se um amigo; mas se é a
essência mesma de sua existência ser
inimizade, positiva inimizade, a inimizade não se pode mudar
a si mesma. Não, devemos fazer algo mais do que podemos alcançar.
Isto é precisamente o que se esquece
nestes dias. Necessitamos mais pregação com
a unção do Espírito Santo, se
queremos ter mais obra de conversão. Eu
digo a vocês, amigos, que se vocês
operam a mudança em vocês mesmos, e se tornam melhores, e melhores, e
melhores, mil vezes melhores, nunca serão o
suficientemente bons para o céu. Enquanto o
Espírito de Deus não haja posto Sua
mão em vocês; enquanto não haja regenerado o
coração, enquanto não haja purificado a alma, enquanto não haja mudado o
espírito inteiro e não haja feito do homem uma nova criatura,não poderão entrar
no céu. Quão seriamente, então, deveriam fazer uma pausa e meditar. Eis-me
aqui, uma criatura de um dia, um mortal nascido para morrer, contudo um ser
imortal! Neste momento estou inimizado com Deus. Que farei? Acaso
não é meu dever, assim como minha
felicidade, perguntar se há uma maneira de ser
reconciliado com Deus? Oh!, esgotados escravos do
pecado, acaso não são seus caminhos,
sendas de insensatez? Acaso é sabedoria, oh
meus amigos, é sabedoria odiar a seu Criador?
É sábio estar em oposição a Ele? É prudente desprezar as riquezas da Sua
graça? Se for sabedoria, é a
sabedoria do inferno; se é sabedoria,
é uma sabedoria que é insensatez para
com Deus. Oh, que Deus nos conceda
que possam voltar-se para Jesus com pleno
propósito de coração! Ele é o embaixador; Ele é o
único que pode estabelecer a paz por meio de Seu sangue; e ainda
que vieram aqui como inimigos, é
possível que atravessem essa porta como amigos, se não
fazem senão olhar a Jesus Cristo, a serpente de bronze que foi alçada. E agora,
pode ser que alguns de vocês tenham sido convencidos do pecado, pelo Espírito
Santo. Eu agora vou proclamar o caminho da salvação. “E como Moisés levantou
a serpente no deserto, assim importa
que o Filho do Homem seja levantado,
para que todo aquele que nele crê,
não pereça, mas tenha vida eterna.”
Contempla, oh temeroso penitente, o
instrumento de tua libertação. Volta teus
olhos cheios de lágrimas para aquele
Monte do Calvário! Olha a vítima da justiça, o sacrifício de
expiação por tua transgressão. Olha para o Salvador em Suas agonias, comprando
tua alma com torrentes de Seu sangue, e suportando teu castigo em meio às
agonias mais intensas. Ele morreu por ti, se confessas tuas culpas agora. Oh,
vem tu, homem condenado, auto condenado, e volta teus olhos a este caminho,
pois um só olhar salvará. Pecador, tu foste mordido. Olha! Não necessitas
nenhuma outra coisa senão “olhar!” É simplesmente “olhar!” Basta que olhes a
Jesus e serás salvo. Ouves a voz do Redentor: “Olhem para mim e sedes salvos.”
Olhem! Olhem! Olhem! Oh almas culpadas
“Confia nEle, confia plenamente, Não permitas que outra
confiança se intrometa; Ninguém senão Jesus Pode fazer bem ao pecador
desvalido.”
Que
meu bendito Senhor os ajude a vir a Ele, e lhes atraia a Seu Filho, por Jesus Cristo
nosso Senhor. Amém e Amém.
Por: Charles Spurgeon
Tradução: Rosangela Cruz
Esse sermão faz parte do Volume 1 de sermões, da parte denominada NEW PARK STREET
O Original em inglês encontra-se em http://www.spurgeongems.org/vols1-3/chs20.pdf , com o titulo original The Carnal Mind Enmity Against God!Esse sermão foi traduzido da tradução de Alla Román, em http://www.spurgeongems.org/schs20.pdf
Permissões: Você está autorizado e incentivado a reproduzir, distribuir ou divulgar este material em qualquer formato, desde que informe o autor, seu ministério, e o tradutor, não altere o conteúdo original e não o utilize para fins comerciais.
Charles Spurgeon
Charles Haddon Spurgeon, referido como C. H. Spurgeon (Kelvedon, Essex, 19 de junho de 1834 — Menton, 31 de janeiro de 1892), foi um pregador batista calvinista britânico. Converteu-se ao cristianismo em 6 de janeiro de 1850, aos quinze anos de idade. Aos dezesseis, pregou seu primeiro sermão; no ano seguinte tornou-se pastor de uma igreja batista em Waterbeach, Condado de Cambridgeshire (Inglaterra). Em 1854, Spurgeon, então com vinte anos, foi chamado para ser pastor da capela batista de New Park Street, Londres, que mais tarde viria a chamar-se Tabernáculo Metropolitano, transferindo-se para novo prédio. Desde o início do ministério, seu talento para a exposição dos textos bíblicos foi considerado extraordinário. Sua excelência na pregação das Escrituras Bíblicas lhe renderam o título de O Príncipe dos Pregadores e O Último dos Puritanos.
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